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Comando Vermelho domina o tráfico no Acre, aponta reportagem da Folha de SP

Uma reportagem publicada pela Folha de S. Paulo nesta sexta-feira (31) revela que o Comando Vermelho (CV) consolidou o domínio sobre o varejo de drogas em quatro estados da região Norte — Amazonas, Pará, Acre e Rondônia. A informação consta em um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que mapeia a atuação das facções brasileiras e seus vínculos com grupos armados da Colômbia.

O levantamento, feito em parceria com a Direção Nacional de Inteligência da Colômbia (DNI), detalha como o tráfico internacional de drogas na chamada Amazônia Compartilhada envolve negociações diretas entre o Comando Vermelho, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e organizações criminosas colombianas, responsáveis pela produção e envio de drogas ao Brasil.

Segundo a reportagem, “a maconha skunk produzida na Colômbia é destinada quase integralmente ao mercado brasileiro, com foco em consumidores de maior poder aquisitivo, e registra crescimento especialmente nas regiões Sul e Sudeste.”

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Comando Vermelho domina o tráfico no Acre, aponta reportagem da Folha com base em relatório da Abin/Foto: Reprodução

A droga, conhecida por ter alto teor de THC (tetrahidrocanabinol) — entre 15% e 25% —, é considerada de “maior qualidade e valor agregado” em relação à maconha vinda do Paraguai. O relatório aponta que “o skunk colombiano também é negociado pelas facções brasileiras, como o Comando Vermelho, com os grupos armados da Colômbia, assim como o cloridrato de cocaína e pasta base.”

O Acre aparece no estudo como parte estratégica das rotas fluviais e terrestres que ligam os produtores colombianos aos distribuidores brasileiros. A droga atravessa o rio Putumayo e entra no país pela região amazônica, alcançando os estados de Amazonas e Acre, onde é redistribuída por facções locais ligadas ao Comando Vermelho.

De acordo com a Folha, “brasileiros compram a maconha produzida em Cauca e a trazem para o país por um percurso terrestre e fluvial (…), embarcada no rio Putumayo até Tarapacá, na fronteira entre Colômbia e Brasil. A partir desse ponto, a droga seguiria pelo rio Içá/Solimões em direção a diferentes destinos no território brasileiro.”

No Acre, as forças de segurança já reconhecem que a disputa entre facções como o CV e o PCC tem relação direta com o controle das rotas de entrada da droga e com o aumento da violência nas fronteiras.

A Folha destaca ainda que o Comando Vermelho mantém acordos com traficantes colombianos ao longo do Rio Solimões e busca ampliar seu acesso direto a fornecedores da Colômbia e do Peru — estratégia que garante vantagem sobre rivais e fortalece a presença da facção no Acre e em estados vizinhos.

O relatório indica que “a intensificação do narcotráfico e o aumento do fluxo de ilícitos, incluindo o skunk, geram efeitos colaterais graves na Amazônia, resultando na violência territorial derivada de disputas pelo controle das áreas de interesse, e na degradação social, com maiores impactos entre os povos originários e ribeirinhos.”

Nos últimos anos, o Acre tem se tornado um dos pontos de maior tensão na disputa entre as facções, com o Comando Vermelho consolidando o domínio sobre o tráfico local. O relatório reforça o que as autoridades estaduais já alertavam: a presença das facções nas fronteiras acreanas é parte de uma rede internacional de narcotráfico, que tem origem na Colômbia e se estende por toda a Amazônia.

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