O avanço do crime organizado na Amazônia tem se tornado um dos principais vetores de desmatamento e degradação ambiental, com impactos que ultrapassam as fronteiras brasileiras. Um relatório que será apresentado nesta terça-feira (11) na COP30, em Belém (PA), revela como redes criminosas atuam em atividades que vão do garimpo ilegal ao tráfico de drogas, destruindo conexões sociais e ecológicas na maior floresta tropical do planeta.
O documento, intitulado “Relatório de Avaliação da Amazônia 2025: Conectividade da Amazônia para um Planeta Vivo”, foi elaborado pelo Painel Científico para a Amazônia (SPA), coordenado pela Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU (SDSN). O grupo reúne cientistas, líderes indígenas e representantes da sociedade civil.
Segundo o estudo, o crime ambiental passa a ser reconhecido como prioridade na Agenda de Ação da Convenção do Clima, que orienta as discussões da COP.
“Defendemos há anos que o crime ambiental fosse tratado como tema central nas conferências do clima. O Instituto Igarapé vem trabalhando desde 2019 para incluir essa pauta na agenda oficial”, afirmou Ilona Szabó, uma das autoras do relatório e presidente do Instituto Igarapé.
A questão também foi destacada no documento “Chamado à Ação sobre Manejo Integrado do Fogo e Resiliência a Incêndios Florestais”, divulgado durante a cúpula de líderes que antecedeu a COP30. O texto pede transparência e cooperação entre autoridades para combater as atividades ilegais que alimentam as queimadas e o desmatamento.
Na região amazônica, o crime organizado atua em várias frentes: garimpo clandestino, extração ilegal de madeira, tráfico de drogas, armas, pessoas e animais, além de exploração de trabalho análogo à escravidão. As facções usam o desmatamento para ocupar territórios, lavar dinheiro e expandir suas redes.
Investigações citadas no relatório apontam que o Comando Vermelho (CV) atua no transporte de madeira e drogas pela Transamazônica, e no rio Solimões, onde pescado é usado para ocultar cocaína. No Acre e em Rondônia, as facções grilam fazendas para armazenar drogas, enquanto no interior do Pará abrem garimpos em áreas isoladas, usadas também como refúgio de criminosos. O PCC também foi identificado em operações de “narcogarimpo”.
O relatório dedica um trecho à crise humanitária na Terra Indígena Yanomami, onde o garimpo ilegal provocou contaminação por mercúrio até 20 vezes acima do limite da OMS, causando danos neurológicos permanentes em comunidades indígenas.

