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Em meio à escalada de tensão, Trump planeja uma ligação telefônica com Maduro

Apesar da crescente tensão entre os países, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, informou a sua equipe que deseja falar diretamente com o líder venezuelano, Nicolás Maduro. Até o momento, não há data definida para a conversa, que está “em fase de planejamento”. A decisão do presidente americano, revelada pelo portal americano Axios nesta terça-feira, ocorre um dia depois que a Casa Branca classificou o Cartel de los Soles — suposto cartel do narcotráfico que Washington afirma ser liderado por Maduro e altos dirigentes chavistas — como organização terrorista estrangeira.

A ideia de Trump de conversar com Maduro sugere que — apesar da concentração de poder militar que os EUA acumulam no Caribe, com o maior porta-aviões do mundo, navios de guerra e mais de 15 mil militares — a possibilidade de uma ação direta em território venezuelano não está concretizada, pelo menos neste momento.

Ainda de acordo com o portal, diplomatas disseram que Maduro provavelmente fará três promessas ao presidente americano: eleições “novas” em três anos, acesso total de Washington ao petróleo venezuelano e a suspensão do envio de petróleo para a Rússia, que trava uma guerra na Ucrânia. Mas, segundo eles, o líder venezuelano “nunca cumpre o que promete”.

— Ninguém está planejando atirar [em Maduro] ou sequestrá-lo, pelo menos por enquanto. Nunca diga nunca, mas agora isso não está nos planos — disse um alto funcionário do governo Trump ao Axios. — Enquanto isso, continuaremos afundando barcos de narcotráfico.

A chamada Operação Lança do Sul no Caribe, comandada pelo governo Trump, já atacou pelo menos 21 embarcações desde 2 de setembro, matando mais de 80 pessoas em bombardeios que especialistas consideram execuções extrajudiciais e atos ilegais.

Também na segunda, o general Dan Caine, considerado o estrategista militar da Lança do Sul, visitou Porto Rico, onde estão cerca de 10 mil soldados, marinheiros e pilotos americanos. Já nesta terça, Caine viajará para Trinidad e Tobago, segundo informações do governo de Porto de Espanha.

Porta-aviões USS Gerald R. Ford, da Marinha dos EUA, o maior do mundo, no Caribe para apoiar operações de combate ao narcotráfico — Foto: Hakon Mosvold Larsen/AFP
Porta-aviões USS Gerald R. Ford, da Marinha dos EUA, o maior do mundo, no Caribe para apoiar operações de combate ao narcotráfico — Foto: Hakon Mosvold Larsen/AFP

Antes de lançar a operação, ainda segundo o Axios, o republicano adotou uma estratégia de “policial bom, policial mau”: enviou o assessor Ric Grenell para conversar com Maduro. À época, o New York Times relatou que Maduro ofereceu as riquezas da Venezuela aos EUA, o que Trump interpretou como um sinal de que o venezuelano “percebeu que não se brinca com os Estados Unidos”. Mas Maduro queria permanecer no poder — algo inaceitável para Trump.

‘Solução diplomática provável’

O Senado americano rejeitou, recentemente, uma resolução que tentava bloquear as ações militares de Trump. Críticos da política de Washington para a Venezuela tentaram responsabilizar o secretário de Estado e conselheiro de Segurança Nacional, Marco Rubio, pela escalada militar. Mas, segundo autoridades do governo, “o falcão na Venezuela é Donald Trump, seguido por Stephen Miller e, depois, Marco Rubio”.

Em 2019, Rubio convenceu Trump a não atacar a Venezuela por falta de ativos militares suficientes. Hoje, essa opção já existe. Segundo fontes, Rubio e o general Caine estruturaram uma operação que deixa todas as opções abertas para o presidente.

Nas últimas semanas, o New York Times também noticiou que Trump havia autorizado operações secretas da CIA dentro da Venezuela. Contudo, simultaneamente, um canal de comunicação há muito fechado entre os dois países foi reaberto. Por meio desse canal, Maduro ofereceu sua renúncia, além do acesso dos EUA ao petróleo venezuelano, em alguns anos. Essa proposta, porém, foi rejeitada categoricamente pelo governo Trump.

Na semana passada, no mesmo dia da chegada do porta-aviões USS Gerald R. Ford nas águas da América Latina, Trump afirmou que “poderia conversar com Maduro”. Desde então, segundo fontes ouvidas pelo Axios, o republicano decidiu que vai falar pessoalmente com o líder venezuelano.

— Vejo uma solução diplomática como muito provável — afirmou um conselheiro de Trump ao portal americano. — Trump quer que seu legado seja o de um presidente que fez tudo ao seu alcance para conter o fluxo de drogas ilegais para os EUA.

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