Uma faxineira guatemalteca de 32 anos foi morta com um tiro na cabeça na madrugada de quarta-feira, em Whitestown, no estado da Indiana, nos EUA, após um morador disparar de dentro da própria casa ao acreditar que a residência estava sendo invadida. A vítima, María Florinda Ríos Pérez de Velásquez, havia chegado ao local para realizar um serviço de limpeza e foi atingida no momento em que tentava acessar o imóvel com o marido.
A polícia de Whitestown informou que dois moradores estavam dentro do imóvel quando o casal chegou. Segundo a corporação, eles acreditaram que a residência poderia estar sendo arrombada e ligaram para o serviço de emergência 911. Nos cinco minutos entre a chamada e a chegada das equipes, um dos moradores disparou de dentro da casa e acertou a mulher na cabeça.
Detetives tentam agora esclarecer o que aconteceu, e promotores se preparam para avaliar se apresentarão acusações criminais.
Segundo o irmão da vítima, ela e o marido viviam em Indianápolis e haviam começado a trabalhar para uma empresa de limpeza há cerca de um ano. Na quarta-feira, iriam atender um novo cliente. O marido relatou que teve dificuldade para abrir a porta e que María pegou suas chaves, brincando com sua falta de jeito. Segundos depois, veio o disparo.
A família descobriu mais tarde que a casa que deveriam limpar ficava atrás da residência em que tentaram entrar.
A vítima era mãe de quatro filhos e havia imigrado com o marido da Guatemala para os Estados Unidos há cerca de três anos, contou seu irmão, Rudy Ríos Pérez.
A polícia não identificou o autor do disparo e não forneceu detalhes sobre os moradores.
A casa integra um novo loteamento em Whitestown batizado em homenagem a Albert S. White, ex-senador e executivo ferroviário de Indiana ligado ao presidente Abraham Lincoln. O imóvel foi vendido em 2021 a um homem que, segundo a polícia, estava entre os ocupantes da residência no momento do tiro.
‘Tendência preocupante’
O caso lembra outros episódios recentes nos Estados Unidos em que pessoas que chegaram ao endereço errado foram recebidas a tiros por moradores que se consideravam sob ameaça.
Em 2023, um homem de cerca de 80 anos, em Kansas City, Missouri, atirou e feriu o adolescente Ralph Yarl, que havia tocado a campainha da casa acreditando ser outra residência. Dois dias depois, na zona rural do estado de Nova York, um homem matou uma jovem de 20 anos ao disparar uma espingarda contra dois carros e uma motocicleta que entraram por engano em sua entrada de garagem. Ambos foram condenados.
— Cada situação é diferente, mas é uma tendência preocupante em nossas comunidades por todo o país — disse Kent T. Eastwood, promotor do Condado de Boone, responsável por decidir se haverá denúncia no caso de Whitestown: — Acho que todos concordam que essa pessoa não deveria estar morta.
Eastwood, contudo, ressaltou que seu papel é aplicar a lei, e lembrou que Indiana possui legislação robusta de proteção à legítima defesa, frequentemente associada às normas conhecidas como “stand your ground” ou à “doutrina do castelo”.
A lei estadual autoriza o uso de força razoável — inclusive letal — quando alguém acredita de forma razoável ser necessário impedir um intruso, sem obrigação de recuar. O ponto central, afirma o promotor, é justamente o que se considera “razoável”.
— Nossas comunidades estão meio fraturadas, e muitas pessoas já não conseguem concordar sobre o que é razoável — disse: — Então, como promotor, tomar essas decisões está ficando cada vez mais difícil. Porque o que é razoável para um grupo não é necessariamente para outro.
Eastwood disse que analisará o relatório policial quando a investigação for concluída, provavelmente no início da próxima semana, antes de decidir se irá apresentar acusações, convocar um grande júri ou não prosseguir com denúncia.
O capitão John Jurkash, porta-voz da polícia de Whitestown, disse que agentes percorreram o bairro em busca de testemunhas e de imagens de câmeras de campainha que pudessem ter registrado o episódio. Ele afirmou que todos no local, incluindo os moradores envolvidos, responderam às perguntas dos investigadores.
Jurkash relatou que os policiais foram acionados pelo 911 por moradores que relataram que pessoas tentavam entrar pela porta da frente. Ao chegar, encontraram a mulher baleada na varanda, ao lado do marido.

