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O mapa de votos de Alcolumbre contra a indicação de Messias no STF

Como parte do esforço para convencer o Palácio do Planalto a desistir da indicação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF), aliados do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) têm apresentado a auxiliares de Lula um mapeamento dos votos que o advogado-geral da União teria no plenário do Senado, caso sua escolha seja mesmo anunciada pelo presidente Lula.

De acordo com esse mapa, Messias teria, hoje, entre 28 e 31 votos certos pela sua aprovação — apurados a partir de conversas informais com os parlamentares, sinais de bastidor e posicionamentos públicos de colegas que não escondem a preferência pelo ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), considerado o “candidato da Casa”.

Conforme informou o blog, a aprovação apertada da recondução do procurador-geral da República, Paulo Gonet, que só obteve quatro votos a mais que o necessário na última quarta-feira (12), acendeu o sinal de alerta no lulismo sobre “o risco Messias” – e deu munição a essa ala do Senado que trabalha fervorosamente contra ele.

O placar de Gonet foi o mais apertado de um procurador-geral da República desde a redemocratização – abaixo inclusive da projeção do relator da indicação, senador Omar Aziz (PSD-AM), que previa 48 a 52 votos favoráveis.

Mas até mesmo no entorno de Alcolumbre, o mapeamento de Messias é visto como um instrumento de pressão política.

“É uma forma de fazer barulho para convencer o Lula a não indicar Messias, mas depois que ele [Messias] for indicado, a coisa muda de figura”, comenta um aliado de Alcolumbre.

O comentário é referência ao comportamento do senador amapaense, de criar dificuldades em um primeiro momento para depois “vender facilidades”, a um custo que costuma envolver liberação de emendas, diretorias de agências, loteamento de cargos públicos e outros interesses eleitoreiros.

Estratégia

No entorno do advogado-geral da União, a avaliação é a de que a votação de Gonet escancarou a estratégia de Alcolumbre de tentar emplacar Pacheco na vaga. “Nas nossas avaliações internas, o Messias tem voto para ser aprovado. Não vai ser fácil, mas passa”, comenta um aliado de Messias.

Para reduzir resistências, o advogado-geral da União deverá ter o apoio de lideranças evangélicas no Congresso, e também de um cabo eleitoral que também já “sofreu” nas mãos de Alcolumbre: o ministro do STF André Mendonça.

Na época de sua indicação por Jair Bolsonaro, em 2021, Mendonça foi “sabotado” por Alcolumbre, que comandava a Comissão de Constituição e Justiça da Casa e adiou por quatro meses a sabatina necessária para enviar o nome do novo ministro ao plenário.

Além de já terem ocupado o cargo de chefe da AGU, Messias e Mendonça também são evangélicos: Messias é da Igreja Batista; Mendonça, da Presbiteriana.

A interlocutores, o ministro do Supremo disse que não quer que Messias sofra o que ele passou para ser aprovado no Senado, o que incluiu uma intensa articulação nos bastidores não só para adiar a sabatina, mas para emplacar o então procurador-geral da República, Augusto Aras, em seu lugar.

Precedente

Além do apoio de lideranças evangélicas, pesa a favor de Messias o histórico do Senado, que não rejeita uma indicação de ministro do Supremo feita por um presidente da República desde o conturbado governo Floriano Peixoto, em 1894.

Mas neste terceiro mandato de Lula, uma indicação na área de Justiça já foi barrada pela Casa – a de Igor Roque para a Defensoria Pública da União, rejeitado com apenas 35 votos a favor e 38 contrários. Antes mesmo de ser confirmado, Roque montou equipe, dava entrevistas e despachava com ministros do governo Lula, o que irritou senadores que acharam que ele sentou na cadeira antes da hora.

Messias tem sido mais cauteloso e submergiu em meio à demora de Lula em anunciar o sucessor de Barroso. Nas últimas semanas, a agenda do presidente da República foi ocupada pela crise de segurança pública no Rio de Janeiro e as negociações multilaterais em torno da COP30, em Belém (PA).

Mesmo assim, há um sentimento em comum entre senadores, tanto da base aliada quanto da oposição, externado por um parlamentar que votou pela aprovação de Gonet e pediu ao blog para não ser identificado: “Se Lula já estivesse tão seguro da aprovação de Messias, já o teria indicado”.

Já um outro senador com bom trânsito entre lulistas recorre à Bíblia para comentar o cenário político: “Hoje, só quem salva Messias é Jesus.”

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