Como incorporador imobiliário, Donald Trump conhece as três chaves do sucesso nesse setor: localização, localização e localização. A geopolítica, por sua vez, também tem três chaves: alavancagem, alavancagem e alavancagem. Mas não é a alavancagem financeira que Trump adorava usar no ramo de imóveis, e sim a capacidade geopolítica de impor sua vontade ao adversário.
Sob essa ótica, Trump conseguiu um cessar-fogo em Gaza porque ganhou alavancagem sobre Israel e o Hamas e a usou com habilidade. Já fracassou na Ucrânia por recusar usar toda a influência que possui sobre Vladimir Putin.
E suas tentativas de usar tarifas para conter as exportações chinesas aos EUA — uma necessidade crescente — têm rendido resultados limitados devido à forma caótica como ele aplicou essas medidas.
Apesar de se vangloriar de sua reunião recente com Xi Jinping, Trump apenas saiu do buraco diplomático que ele mesmo cavou meses antes, restaurando o status quo anterior, como notou o Wall Street Journal. Em um placar hipotético, estaria com um aproveitamento excelente em beisebol, mas insuficiente em geopolítica.
China insiste em modelo exportador
A China enfrenta colapso no consumo doméstico após o estouro de sua bolha imobiliária, e, em vez de estimular sua população, tem dobrado a aposta na produção para exportação, aumentando tensões globais. Trump, reagindo a um problema real, aplica a receita errada: tarifas anunciadas de forma barulhenta e improvisada, sem um plano estratégico ou negociações discretas.
Pior: ele ameaçou Pequim sem calcular seu poder de retaliação. A China domina a mineração, o refino e a fabricação de ímãs de terras raras, insumos críticos para carros elétricos, chips, sistemas de defesa, turbinas e uma infinidade de tecnologias. Quando Xi sinalizou restringir essas exportações, Trump perdeu vantagem e teve de recuar, reduzindo tarifas e adiando restrições tecnológicas.
Embora seja correto proteger a indústria americana do excesso de produção subsidiada chinesa, tarifas eficazes precisam integrar uma estratégia coerente: com inovação doméstica, alianças fortes e incentivos industriais. Trump fez o contrário: encareceu insumos, limitou imigração qualificada, cortou pesquisa pública e brigou com aliados essenciais.
Xi também pode ter atirado no pé
Xi também corre riscos: ao ameaçar a “opção nuclear” dos metais raros, acelerou esforços globais para reduzir dependência da China. Com a inteligência artificial (IA) prestes a reconfigurar empregos industriais, nenhum país aceitará que Pequim concentre toda a manufatura.
O mundo dependeu por décadas do equilíbrio entre EUA e China para manter estabilidade e prosperidade. Essa relação precisa de diálogo longo e silencioso — não de uma guerra comercial barulhenta que pode prejudicar ambos. Se caminharmos para um divórcio econômico total, sentiremos saudades do que perdemos.

