O Dia Mundial do Veganismo, celebrado neste sábado (1), chama atenção para um movimento que ultrapassa o campo da alimentação. O veganismo propõe uma mudança de comportamento pautada na ética, na empatia e na sustentabilidade.
Embora muitas vezes confundido com o vegetarianismo, há diferenças importantes entre os dois estilos de vida. O vegetariano evita o consumo de carnes, mas pode continuar ingerindo derivados de origem animal, como leite, ovos e mel. Já o vegano adota uma postura mais ampla, que vai além da alimentação — rejeita qualquer produto que envolva exploração animal, desde roupas e cosméticos até o entretenimento. A escolha, segundo defensores, reflete um compromisso ético com o meio ambiente e o respeito a todos os seres vivos.
No Acre, o estilo de vida ainda é pouco difundido, mas há quem abrace a causa com convicção. A reportagem conversou com o acreano Roberto Marinho, conhecido como “Bob”, que adotou o veganismo durante a pandemia da Covid-19 e hoje defende a filosofia como uma forma de respeito aos animais e ao planeta.

“Ser vegano é uma escolha ética”, diz jovem acreano em data que celebra o Dia Mundial do Veganismo/Foto: Reprodução
“Quando eu tinha 13 anos, decidi parar de comer carne porque sentia dó dos animais. Depois de assistir a documentários e conteúdos na internet, como o canal do Fábio Chaves, percebi que não fazia sentido amar um cachorro e comer uma vaca. Durante a pandemia, decidi me tornar vegano de vez”, contou.
Ética e consciência ambiental
A principal motivação para a mudança foi a ética animal. Segundo ele, é possível viver bem sem explorar outros seres vivos.
“Não acho justo tratarmos outros seres da forma que tratamos, sendo que conseguimos viver sem produtos de origem animal. Hoje há cosméticos, roupas e alimentos totalmente veganos”, explicou.
Além do aspecto ético, o veganismo também é uma forma de reduzir o impacto ambiental. O jovem cita dados do documentário Cowspiracy, que revelam o peso da pecuária nas mudanças climáticas.
“O veganismo é uma resposta ao consumo excessivo e à crise climática”, disse o acreano/Foto: Reprodução
Entre os principais impactos estão:
- A pecuária é responsável por mais de 51% das emissões de gases de efeito estufa;
- 91% da destruição da Amazônia está relacionada à atividade agropecuária;
- Um único hambúrguer exige 660 litros de água para ser produzido;
- Seis milhões de animais são mortos por hora para alimentar humanos.
“O veganismo é uma resposta ao consumo excessivo e à crise climática. Diminuir o impacto das indústrias agropecuária e têxtil é urgente. Precisamos de políticas públicas que incentivem esse debate”, reforça.
Desafios e adaptação no Acre
Apesar do crescimento do movimento no país, o Acre ainda oferece poucas opções de produtos e refeições veganas.
“Nos supermercados já dá para encontrar carne vegetal, como a marca Incrível, mas os produtos ainda são caros e limitados. Em restaurantes, há opções em locais como Subway, Jarude e Fogão à Lenha, mas é preciso criatividade na cozinha”, disse.
Para lidar com a falta de opções em eventos e viagens, ele adota uma rotina planejada.
“Costumo comer antes de sair de casa. Quando viajo, vou a cidades grandes, e o acervo vegano é enorme. O iFood é o maior aliado”, afirmou.
Na rotina, alimentos como feijão e grão-de-bico são indispensáveis. “São fáceis de preparar e muito proteicos”, completa.
Estigma e desinformação
Apesar dos avanços no debate sobre alimentação sustentável, o veganismo ainda é alvo de estereótipos e comentários preconceituosos.
“Já disseram que sou magro porque sou vegano, ou que vou ficar doente. Mas isso é mito. Uma alimentação saudável independe do veganismo. O que causa doenças é o excesso de carne vermelha e produtos industrializados”, explicou.
Para o acreano, o movimento ainda é pequeno, mas vem ganhando força.
“A Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) tem projetos importantes, e vemos artistas como Billie Eilish e Joaquin Phoenix apoiando o veganismo. Isso mostra que não é modismo, é uma escolha ética e política.”
Um futuro mais consciente
Para o jovem, o veganismo vai além do prato: é um posicionamento político e social.
“Se continuarmos com o modelo de exploração atual, os animais seguirão sendo vistos como inferiores. O Brasil é uma potência agropecuária que favorece grandes indústrias. Precisamos de reforma agrária e políticas públicas sobre o veganismo.”
O que é o Dia Mundial do Veganismo
Criado em 1994 pela Vegan Society, no Reino Unido, o Dia Mundial do Veganismo é celebrado anualmente em 1º de novembro. A data busca conscientizar sobre os direitos dos animais, o impacto ambiental da produção de alimentos e a importância de escolhas éticas no consumo.
Em todo o mundo, o dia é marcado por ações, feiras e debates que incentivam um estilo de vida mais sustentável e, no Acre, o tema começa a ganhar novas vozes e histórias.
“Ser vegano é uma escolha ética. É enxergar que todo ser vivo merece respeito e que nossas decisões diárias têm impacto direto no planeta”, concluiu.