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‘Só percebi que tinha tomado um tiro quando cheguei em casa’, diz jogadora de vôlei baleada em tentativa de assalto

“Só percebi que tinha levado um tiro quando cheguei em casa”. A frase dita por Júlia Rocha Marques de Azevedo, de 28 anos, resume a violência abrupta de uma ação criminosa que poderia ter terminado em tragédia. Jogadora de vôlei do Tijuca Tênis Clube, ela foi baleada nas costas na noite deste domingo, na Tijuca, Zona Norte do Rio, depois que homens armados abriram a porta do carro da família e atiraram sem anunciar assalto. O disparo atravessou o porta-malas do Honda Civic e atingiu a atleta a centímetros de estruturas vitais de seu corpo.

O ataque ocorreu por volta das 22h20, no cruzamento das ruas Conde de Bonfim e Henry Ford, quando o pai de Júlia a levava para casa, após uma visita à avó. O trajeto, que duraria menos de cinco minutos, foi interrompido no momento em que um carro preto emparelhou com o veículo da família. A rapidez da abordagem impediu qualquer reação.

— Eles não pediram nada. Não renderam. Só abriram a porta e meteram bala. Foi tudo muito rápido que meu pai só teve tempo de sair com o carro e fugir daquela situação. Foi nesse momento que eles atiraram — relatou a jovem, ainda em recuperação.

Jogadora de vôlei, Júlia Azevedo, é baleada em tentativa de assalto na Tijuca — Foto: Reprodução/ redes sociais
Jogadora de vôlei, Júlia Azevedo, é baleada em tentativa de assalto na Tijuca — Foto: Reprodução/ redes sociais

Tiros disparados à queima-roupa

Segundo Júlia, os criminosos pareciam determinados a atirar. Assim que o carro deles parou ao lado do Honda Civic, a porta foi aberta e os disparos começaram. O pai da atleta acelerou para tentar escapar. Nesse intervalo de segundos, três tiros foram efetuados: dois atingiram o carro; o terceiro rompeu a lataria da mala e perfurou as costas da jogadora.

Mesmo baleada, ela não percebeu imediatamente o ferimento.

— Senti uma dor como se tivesse levado um soco muito forte na coluna. Meu pai perguntava se eu tinha tomado um tiro, e eu dizia que não, que era para ele fugir. Meu medo era eles continuarem atirando. Eu só fui perceber que tinha levado um tiro quando cheguei em casa — disse a jovem.

Sem sangramento aparente, a família só percebeu o disparo ao chegar em casa. Júlia foi então levada ao Hospital Badim e, em seguida, transferida para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro. A tomografia revelou que o tiro transfixou o corpo, mas sem atingir pulmões, rins ou a coluna — uma combinação improvável, que permitiu que ela recebesse alta horas depois. A jogadora, então, foi liberada para casa apenas com curativo no lugar em que a bala atingiu. A dinâmica do ataque, no entanto, deixou a vítima com a impressão de que os criminosos estavam descontrolados.

— Parecia que eles estavam muito doidões. Pela distância, era para terem acertado muito mais. Eles não queriam render, não queriam falar. Só queriam atirar. A intenção deles era matar mesmo. Saíram para matar — lamentou a jogadora.

A hipótese de que o carro da família tenha sido confundido com outro não está descartada, segundo a polícia. Nenhum bem foi levado e não houve tentativa de abordagem típica de assalto.

Caso registrado como tentativa de assalto

A ocorrência foi registrada na 19ª DP (Tijuca) como tentativa de assalto. A polícia tenta localizar câmeras de segurança que possam ter registrado o carro usado pelos suspeitos. Até a noite desta segunda-feira, não havia informações sobre identificação dos criminosos.

O GLOBO solicitou esclarecimentos à Polícia Civil sobre diligências realizadas e aguarda retorno.

Recuperação e vida interrompida temporariamente

Jogadora do Tijuca, Júlia deve ficar afastada dos treinos por algumas semanas. Apesar da dor intensa causada pelo impacto do disparo, afirma não ter desenvolvido medo de sair às ruas.

— Não quero deixar de viver minha vida por isso. Foi um livramento. Eu estava no lugar errado, na hora errada, mas sigo em frente.

No fim de um dia que começou comum e terminou marcado por tiros, a jogadora reconhece o tamanho do risco que correu — e o acaso que a manteve viva.

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