Quando o Remo disputou a Série A do Campeonato Brasileiro pela última vez, o atacante Pedro Rocha era só um recém-nascido. Já seu companheiro de ataque, o português João Pedro, sequer tinha vindo ao mundo. São dados que dão uma ideia do tamanho do significado da volta do clube à elite, alcançada após a vitória sobre o Goiás (3 a 1), que teve os dois como heróis. Toda uma geração de torcedores que não sabia o que era ver seu time na primeira divisão nacional — e também aqueles que já nem lembravam — festeja o fim do jejum de 32 anos.
Não é só a massa azulina que têm motivos para celebrar. Com o Remo garantido, a Série A voltará a ter um time do Norte depois de 20 anos. O último havia sido o Paysandu, também do Pará, na edição de 2005. Com o acesso conquistado no domingo, inclusive, o Leão azul diminuiu a distância para o arquirrival em participações na elite nacional: a do ano que vem será a 16ª, contra 20 do conterrâneo.
A maior diversidade deve se converter em arquibancadas cheias para a Série A 2026. O Remo fechou este ano com o maior público (47.572 presentes na vitória de domingo sobre o Goiás) e a terceira maior média da segunda divisão: 19.341 por partida, atrás apenas de Athletico e Coritiba. Na elite, esta marca ficaria à frente da de seis clubes. Entre elas, o atual campeão Botafogo e o Santos, de Neymar.
E é importante destacar que quatro das 19 partidas do Remo como mandante foram disputadas no Baenão. O estádio, de propriedade do clube, tem capacidade para 13.792 pessoas, muito inferior à do Mangueirão, que recebe pouco mais de 50 mil.
Ser o único representante da Região Norte na Série A, porém, também cobrará seu preço. Ainda que todos os 20 participantes da próxima edição não estejam definidos, é certo que o Remo será aquele que irá percorrer a maior distância total em viagens — o que costuma ser sinônimo de mais desgaste e um menor tempo de recuperação entre partidas. O posto na edição atual é da dupla Ceará e Fortaleza.
Mas se tem algo com o qual o Remo se acostumou ao longo dos últimos anos é superar situações adversas. O longo jejum de participações na elite é marcado por um dos períodos de maior dificuldade em campo. Em 2009, 2011 e 2013, período em que esteve fora das três primeiras divisões, o clube não foi bem no Estadual e não garantiu presença sequer na Série D. De forma melancólica, o ano dos azulinos terminou ainda no primeiro semestre.
A guinada começou com o acesso para a C em 2015. Desde então, subiu duas vezes para a B. A primeira em 2020 e a mais recente no ano passado.
A própria temporada atual, que termina em festa, também foi de oscilações. O ano começou com eliminações nas Copas Verde e do Brasil. E mesmo com a conquista do Paraense, os altos e baixos continuaram. Ao todo, foram três trocas no comando técnico até a chegada de Guto Ferreira.
O treinador é um personagem à parte neste capítulo da história do Remo. Sob seu comando, o time paraense engatou uma série de seis vitórias seguidas que fez a torcida voltar a sonhar. Com a conquista da vaga, Guto chegou ao seu quinto acesso à Série A na carreira (os anteriores foram com Ponte Preta, em 2014; Bahia, em 2016; Internacional, em 2017; e Sport, em 2019). Ele se igualou a Givanildo Oliveira, com o mesmo número de classificações à elite nacional.
Outro personagem importante neste acesso é um velho conhecido da torcida do Flamengo: Marcos Braz. O ex-vice rubro-negro (entre 2019 e 2025) assumiu em maio como executivo no futebol azulino. Sua vinda representou uma mudança de postura do Remo nos bastidores e no mercado, com contratações de jogadores como o lateral-esquerdo Jorge (ex-Santos), os uruguaios Diego Hernández e Nico Ferreira e o próprio João Pedro, herói da classificação com dois gols na vitória sobre o Goiás.
Agora, enquanto a torcida festeja, o Remo volta suas atenções para o planejamento para 2026. A Série A já começa em 28 de janeiro.

