As mudanças climáticas, agravadas pelo aquecimento global, vão afetar a segurança energética do Brasil. A conclusão faz parte do estudo “Impacto da Mudança Climática nos Recursos Hídricos do Brasil”, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que aponta redução média nas vazões dos rios de todo o país até 2040. A região amazônica será a mais afetada, com queda de até 50%, seguida das regiões Norte e Nordeste, que, na média, terão um recuo de até 40%.
O estudo aponta ainda que as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste deverão ter reduções de até 10%. De acordo com o levantamento, a redução na vazão dos rios é causada pelo aumento da temperatura, pela alteração no regime de chuvas e pelo crescimento da evapotranspiração, quando há perda de água do solo e da vegetação para a atmosfera, intensificada pelo calor.
Segundo especialistas, o volume de chuvas impacta diretamente a vazão média dos rios e, por consequência, a geração de energia das hidrelétricas, que hoje somam 43,7% da capacidade instalada, de acordo com dados do Operador Nacional do Sistema (ONS). “Sendo as hidrelétricas a principal matriz energética do Brasil, impactos nesse setor são preocupantes, já que os prejuízos decorrentes podem inviabilizar projetos existentes e planejados, caso não sejam consideradas as projeções climáticas”, traz um dos trechos do estudo.
No geral, o levantamento aponta que as mudanças climáticas podem impactar, de alguma forma, 90% da potência instalada e planejada das hidrelétricas do país, com a redução das vazões médias afluentes. “No Brasil, de forma especial, a segurança hídrica está diretamente relacionada à segurança energética e alimentar, visto que grande parte da energia é produzida em usinas hidrelétricas e o país se posiciona como um dos maiores produtores de alimentos do planeta”, destaca o estudo.
A ANA e UFRGS alertam para a região Norte. “Dentre os empreendimentos existentes, os maiores impactos se concentram nas usinas com maior potência instalada, a maioria delas localizada na bacia amazônica”, diz o estudo. O levantamento aponta que os impactos na vazão serão mais intensos nos rios Juruá, Purus, Tapajós e Xingu, todos afluentes do Rio Amazonas. “Enquanto a precipitação pode reduzir entre 10% e 15% na região, a vazão média pode diminuir até 50% nas bacias dos rios Xingu, Juruá e Purus”, exemplifica o estudo.
O Xingu conta com a usina de Belo Monte, uma das maiores do mundo. “A água é o elemento mais sensível e imediato por meio do qual os impactos das mudanças climáticas se manifestam”, diz o documento. O levantamento lembra que pode ocorrer aumento do grau de intermitência (rios totalmente secos em períodos do ano) na Região Nordeste. “Além disso, espera-se um aumento (de até dois meses) na duração de períodos de escassez hídrica, quando a vazão disponível no rio é menor que a atualmente utilizada como referência no planejamento dos usos da água”, aponta.
O estudo lembra ainda que não há apenas impacto na geração de energia elétrica. A mudança no regime de chuvas vai afetar em cheio a agricultura. O levantamento aponta que 90% da agricultura atualmente é irrigada por pivôs. O estudo cita impactos ainda em 10% do cultivo de arroz e em 90% do cultivo de sequeiro (algo que depende da chuva para a agricultura, sem irrigação). “O aumento da frequência e intensidade dos extremos, associado às mudanças climáticas, evidencia que gerir a água de forma sustentável e adaptativa não é apenas uma medida técnica, mas uma necessidade estratégica para garantir segurança hídrica, alimentar, energética e ambiental no Brasil.”
Com os eventos climáticos extremos se tornando cada vez mais frequentes, o estudo lembra também do grande volume de chuvas em curto período de tempo. As projeções mostram aumentos na chuva máxima em todos os centros urbanos, com a região Sul indicando alta entre 5% e 25%, enquanto as regiões Norte e Nordeste “indicam as maiores projeções de alteração”, com aumento de pelo menos 40% na chuva máxima de um dia.

