Após a interdição da Penitenciária Feminina Guimarães Lima, em Cruzeiro do Sul, determinada pela Justiça do Acre em setembro deste ano, 17 mulheres que estavam custodiadas na unidade tiveram seus destinos alterados. Sete delas passaram a cumprir medidas com o uso de tornozeleira eletrônica, enquanto outras dez foram transferidas para o Presídio Moacir Prado, no município de Tarauacá.
A decisão ocorreu após apontamentos de graves problemas estruturais no prédio, que foi construído há mais de cinco décadas e, segundo órgãos de fiscalização, apresentava risco à integridade de internas e servidores.
Com a transferência, familiares das detentas passaram a relatar dificuldades para manter as visitas. Tarauacá fica a cerca de 220 quilômetros de Cruzeiro do Sul, e o deslocamento exige gastos considerados altos pelas famílias. A passagem de ônibus de ida e volta custa R$ 174, enquanto o transporte por lotação chega a R$ 280, em uma viagem de aproximadamente quatro horas pela BR-364. Além disso, muitos visitantes precisam pagar hospedagem no município.
De acordo com relatos, alguns familiares chegam a dormir na rodoviária de Tarauacá por não terem condições de arcar com hotel. A autônoma Luciene do Carmo Queiroz afirma que precisa trabalhar cerca de duas semanas para conseguir pagar a viagem e levar alimentos e itens de higiene para a filha.
“E eu venho pedir à justiça que, por favor, que traga nossos filhos de volta. Eu falo por mim e falo pelas outras mães que se encontram desesperadas por ter suas filhas numa penitenciária, que não é nada fácil para a gente que não tem, muitas mães não têm trabalho como eu, não tenho trabalho, eu trabalho ambulante, vendo trufa e chocolate para que eu possa manter a minha família e trabalho quase duas semanas para conseguir o dinheiro da passagem de ida e de volta, para ir para Tarauacá e sem contar que eu tenho que levar as coisas para elas. Então, por favor, que as autoridades tenham piedade dessas mães que se encontram, a gente sai à noite daqui, véspera da visita, a gente fica na rodoviária, dormindo lá pelos bancos, muitas vezes a gente não dorme,a gente fica sentada lá em Tarauacá, na rodoviária, porque não tem canto para a gente dormir, a gente não conhece ninguém. Então, pelo amor de Deus, que tenha misericórdia de nós, dessas mães sofredoras que se encontram com os filhos, com os filhos na penitenciária”, pede ela.
Outra familiar, tia de uma detenta transferida, afirma que a família ainda não conseguiu realizar nenhuma visita desde a mudança para Tarauacá, por falta de condições financeiras e apoio no município.
“Eu sou tia da Milena Silva Rodrigues, que está presa lá no presídio de Tarauacá. Eu vim aqui encarecidamente pedir ao juiz, pedir às autoridades, ao Ministério Público, à Defensoria Pública, que por favor olhasse para os nossos familiares que foram transferidos daqui de Cruzeiro do Sul, lá para Tarauacá, porque nós não temos condições alguma de sair daqui, todas as visitas e visitar lá. Eu, pelo menos, e minha mãe, nós não temos condições. A minha sobrinha, ela nunca recebeu uma visita nossa, até porque nós não temos parente lá. A gente não tem amigo, a gente não tem nenhum conhecido para sair daqui e ficar hospedado lá em Taruacá. Então, por favor, vocês olhem para as nossas meninas que estão lá presas, longe da família, por favor, tragam elas de volta. Todas as mamães estão sofrendo, a família sofre. Por favor, faça alguma coisa por elas e por nós também. Desde já eu agradeço”, pontua.
Uma mãe de 84 anos também manifestou preocupação por não conseguir visitar a filha devido à idade e às limitações físicas. Ela afirma temer não conseguir vê-la novamente.
“Eu sou a mãe da Lácila de Maria e eu quero, estou aqui para pedir ajuda também pela minha filha, que eu estou muito ansiosa para ver ela, vivo doente, já tenho 84 anos. Eu não aguento mais andar nem de ônibus, nem de carro, eu vou para Rio Branco de vez em quando em tratamento, porque eu vou pelo TFD, de avião, mas eu não posso nem visitar ela, aqui é melhor, eu peço, em nome de Jesus, traga meus filhos de volta para cá, porque eu não posso ir lá, senão eu não vou ver ela mais nunca mais. Eu queria ver ela, não sei quanto tempo de vida eu tenho, e eu peço em nome de Jesus, dê a transferência dela, para ficar aqui mais perto da família”, pede a idosa.
Situação da unidade interditada
Após a interdição, equipes do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen), da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e da Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop) realizaram inspeções na antiga penitenciária feminina. Segundo o diretor do presídio de Cruzeiro do Sul, Elvis Barros, a demolição do prédio já foi autorizada, mas ainda não há data definida para o início dos trabalhos nem para a construção de uma nova unidade feminina no município.
A estimativa é de que sejam necessários cerca de R$ 2,7 milhões para a obra. O governo do Acre busca recursos junto à Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
A interdição foi determinada após ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), que apontou falhas estruturais graves na unidade. De acordo com o órgão, laudos técnicos identificaram risco de colapso da edificação. A decisão judicial que determinou o fechamento total da penitenciária foi proferida no dia 17 de setembro de 2025 pela 2ª Vara Criminal da Comarca de Cruzeiro do Sul.

