A política acreana vive, neste final de 2025, um daqueles momentos raros em que todo o tabuleiro fica em suspenso. Os partidos não anunciam movimentos, pré-candidaturas não são oficializadas, alianças não avançam. A razão tem nome, sobrenome e um histórico eleitoral absolutamente singular: Gladson Cameli, governador, ex-senador, ex-deputado federal por dois mandatos, e um dos políticos mais vitoriosos da história recente do Acre.
O destino de Gladson Cameli definirá todo o xadrez eleitoral de 2026 — da direita ao PT, ninguém se move antes do dia 17/Foto: Reprodução
Desde 2006, Gladson não sabe o que é perder uma eleição. Consolidou um capital político capaz de atravessar crises, recompor alianças, reorganizar campos ideológicos e, principalmente, impor ritmo e limites ao processo político do estado. Não por acaso, lidera com folga todas as pesquisas para o Senado em 2026 — mesmo ainda no exercício do governo.
Mas tudo isso estará à prova no próximo dia 17, quando o Superior Tribunal de Justiça julgará um processo que pode redefinir o futuro do governador e, por tabela, todo o destino eleitoral do Acre.
Os cenários possíveis — e todos eles impactam 2026
O julgamento abre um leque de cenários que vão muito além do destino pessoal de Gladson. Cada possibilidade altera profundamente as articulações já iniciadas — e congeladas — no campo da direita e do centro.
- Condenação com perda imediata do mandato e cassação dos direitos políticos
Nesse caso, o governador deixaria o cargo, mas poderia recorrer ao Supremo Tribunal Federal, fora do mandato. Seria o cenário mais drástico e, provavelmente, o que criaria maior instabilidade para 2026.
- Condenação com perda dos direitos políticos, mas sem afastamento do cargo
Aqui, Gladson permaneceria no governo enquanto aguarda decisão do STF. É o cenário que projeta um governador sub judice, ainda com forte influência política, mas sob questionamento jurídico.
- Condenação com liminar suspendendo seus efeitos
A defesa trabalharia para garantir que ele continue apto a disputar as eleições, mantendo-se em uma zona híbrida: sub judice, porém competitivo.
- Absolvição
Esse é o cenário de maior impacto político. Uma decisão favorável — sobretudo se fundamentada nas contestações sobre documentos que a defesa afirma não terem sido disponibilizados — pode zerar o imbróglio jurídico, devolvendo ao governador total liberdade para decidir seus próximos passos.
Em qualquer uma dessas hipóteses, uma coisa já está clara:
o Acre, hoje, gira em torno do destino jurídico e político de Gladson Cameli.
Por que o julgamento paralisa a política do Acre?
Porque Gladson não é apenas o governador: é a principal âncora eleitoral do campo da direita e do centro, desde 2018.
Partidos, lideranças regionais, deputados estaduais, prefeitos e até pré-candidatos proporcionais aguardam o resultado do julgamento para saber:
- se Cameli será candidato ao Senado;
- se o governo terá continuidade forte e competitiva;
- se haverá rearranjo de forças no grupo governista;
- se uma eventual saída de cena abrirá espaço para novos protagonistas.
Até o PT, principal força de oposição, reorganiza suas expectativas de acordo com o desfecho no STJ. Com Gladson forte e livre, a oposição terá de recalibrar suas escolhas. Com Gladson fragilizado ou afastado, o jogo muda completamente.
Em outras palavras: a política acreana está em ponto morto.
A força de um político jovem que concentra o destino de um estado
Gladson Cameli tornou-se, ao longo de quase duas décadas, uma referência política incontornável no Acre. Sua trajetória, marcada por vitórias consecutivas desde 2006, ajudou a moldar um estilo próprio de governar e de articular bases eleitorais amplas.
O fato de que todo o sistema político estadual aguarda a decisão do dia 17 é a prova mais evidente de seu peso.
Raros políticos, ainda mais tão jovens, conseguem condicionar de forma tão direta os rumos de um estado inteiro.
O desfecho do julgamento não definirá apenas se Gladson será candidato ao Senado, continuará no governo ou enfrentará restrições jurídicas.
Ele definirá — com todas as letras — como o Acre entrará na disputa de 2026.
Por isso, a sexta-feira de hoje é de reflexão, expectativa e cálculo.
O Acre respira política. Mas, por enquanto, respira em silêncio, à espera do dia 17.

