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Líderes da UE aprovam empréstimo de R$ 585 bilhões para a Ucrânia, mas sem uso de ativos da Rússia

Líderes europeus aprovaram na madrugada desta sexta-feira um empréstimo de 90 bilhões de euros (cerca de R$ 585 bilhões) para financiar os esforços de guerra da Ucrânia pelos próximos dois anos, mas sem fazer uso de ativos russos congelados no continente para garantir o empréstimo — que mesmo tratada como primeira opção por países influentes do bloco, não alcançou um consenso entre a maioria. O valor é equivalente a dois terços dos 137 bilhões de euros (887 bilhões de reais) de gastos necessários estimados por Kiev para manter suas atividades diante da disputa com Moscou.

As lideranças europeias se reuniram em Bruxelas na quinta-feira com o objetivo de confirmar o apoio à Ucrânia, com duas propostas sobre a mesa. A mais polêmica delas incluía o uso de ativos do Banco Central da Rússia, congelados no continente, para financiar a Ucrânia — a maior parte dos 210 bilhões de euros (R$ 1,3 trilhão) estão sob custódia da empresa Euroclear, sediada na Bélgica. Um empréstimo convencional também estava sob avaliação, e acabou se confirmando.

O acordo corresponde a um empréstimo sem juros, segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O valor está garantido pelo Orçamento da UE, e Kiev só precisará reembolsá-lo se a Rússia pagar uma indenização pela guerra. A operação será efetuada por 24 países-membros do bloco, excetuados Hungria, Eslováquia e República Tcheca, que relutam em apoiar a Ucrânia.

“Chegamos a um acordo. Aprovou-se a decisão de conceder uma ajuda de 90 bilhões de euros à Ucrânia para 2026-2027”, escreveu o presidente do Conselho Europeu, António Costa, na rede social X. “Nos comprometemos e cumprimos a nossa promessa”.

— Garantir 90 bilhões de euros a outro país para os próximos dois anos. Não acredito que já vimos isso alguma vez em nossa história — disse a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, cujo país ocupa a presidência do Conselho da UE até o final do ano.

Enquanto chefes de Estado, governo e de órgãos da UE apontaram para a decisão sobre o empréstimo como uma vitória e demonstração de força, interlocutores em Moscou e analistas internacionais viram na falta de acerto sobre o uso dos ativos russos uma demonstração de divisão, que demonstraria uma indecisão da UE em um momento crucial.

O primeiro-ministro da Bélgica, Bart De Wever, mostrou alívio após a decisão final. O líder do país que detém de facto os ativos russos era uma das vozes contrárias à utilização, alegando a possibilidade de sanções ao sistema financeiro do país. Ao longo das negociações, a proposta de Bruxelas foi de que os aliados europeus compartilhassem os riscos igualmente.

— A decisão está tomada, todos estão aliviados — celebrou De Wever ao término da reunião na sexta-feira.

Em uma publicação no Telegram, o principal negociador para assuntos econômicos da Rússia, Kirill Dmitriev, celebrou o fracasso da opção de “usar ilegitimamente ativos russos para financiar a Ucrânia”, acrescentando que “a lei e o bom senso conseguiram uma vitória”.

Desfecho temporário

Embora não tenha planos imediatos de usar os ativos russos, a União Europeia anunciou que ainda se reserva ao direito de, eventualmente, utilizar os valores congelados. Na semana passada, as nações europeias tomaram medidas para congelar as reservas por tempo indeterminado. Em meio às negociações de termos de paz entre Rússia e Ucrânia, mediado pelos EUA, o bloco europeu tenta demonstrar que são atores poderosos no cenário global.

O chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, afirmou após a definição sobre o empréstimo que a medida era “uma mensagem clara” ao presidente russo, Vladimir Putin, “para acabar com a guerra”. O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que com o financiamento garantido “voltará a ser útil falar com Vladimir Putin”.

Sob pressão americana para aceitar ceder territórios e por fim à guerra mesmo com um acordo que não concorda, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, comemorou a aprovação do empréstimo como uma conquista. Ele destacou o sinal enviado pelos aliados europeus.

“Este é um apoio significativo que realmente fortalece a nossa resiliência”, escreveu o líder ucraniano na rede social X. “É importante que os ativos russos permaneçam imobilizados e que a Ucrânia tenha recebido uma garantia de segurança financeira para os próximos anos”. (Com NYT e AFP)

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