A Amazônia Legal voltou a registrar números elevados de violência no campo em 2025. Entre janeiro e novembro, de 2025, 24 pessoas foram assassinadas em conflitos agrários no país, sendo 14 dessas mortes dentro da Amazônia Legal. Os dados são do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino (Cedoc-CPT). A maior parte dos casos ocorreu na Amazônia Sul Ocidental, área que engloba partes do Acre, Rondônia e sul do Amazonas, região hoje reconhecida como o principal foco de expansão da fronteira agrícola no país.
Segundo o levantamento, oito das 14 mortes registradas na Amazônia Legal ocorreram dentro da região da Amacro, zona que reúne municípios do Amazonas, Acre e Rondônia e que concentra algumas das dinâmicas mais intensas de conflitos territoriais. Rondônia lidera o total de vítimas, com seis assassinatos nos municípios de Machadinho D’Oeste e Vilhena.
No sul do Amazonas, foram registradas duas mortes em Lábrea e Boca do Acre. O Acre, embora não tenha aparecido entre os casos fatais no período, integra a mesma área de pressão fundiária e está inserido no corredor de conflitos.
Especialistas apontam que a violência está diretamente relacionada ao avanço da fronteira agrícola, marcada pelo desmatamento, grilagem, queimadas ilegais e pressões sobre terras indígenas, unidades de conservação e territórios de comunidades tradicionais. Com a expansão da pecuária, da soja e da extração mineral, cresce também a disputa por terras e o deslocamento forçado de famílias rurais, intensificando as tensões na região.
A Amacro, criada inicialmente com a proposta de integrar políticas de desenvolvimento e sustentabilidade, tornou-se, segundo pesquisadores, o epicentro das dinâmicas que impulsionam a devastação. Em 2024, a região concentrou 21,84% de todo o desmatamento da Amazônia Legal, com destaque para os municípios de Apuí e Lábrea, no Amazonas, e áreas rurais de Rondônia.
Além do desmatamento, a pressão minerária também se intensifica. A Agência Nacional de Mineração (ANM) registra mais de 180 processos minerários ativos na área da Amacro, muitos deles incidentes sobre unidades de conservação e zonas de proteção ambiental. A combinação entre mineração, pecuária e especulação fundiária aumenta a instabilidade territorial e contribui para o cenário de violência.
Organizações de pesquisa e movimentos sociais alertam que a região atravessa um processo acelerado de transformação territorial, no qual comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas e camponesas se tornam alvos diretos da disputa pela terra. A persistência dos conflitos demonstra, segundo especialistas, que a violência no campo não é pontual, mas estrutural, e tende a se intensificar onde a expansão da fronteira agropecuária avança sem regulação eficaz.
O Acre, que compõe a Amacro ao lado de Amazonas e Rondônia, permanece em área de risco, especialmente em municípios que fazem fronteira com os polos de desmatamento e pressão fundiária. A expectativa é de que os dados finais de 2025 confirmem o avanço das tensões territoriais na região, reforçando a necessidade de políticas públicas específicas para prevenir conflitos, proteger comunidades ameaçadas e conter o avanço ilegal sobre áreas florestais.

