Cerca de 34 passageiros que estavam no ônibus da Empresa Trans Acreana que tombou na BR-364, em Sena Madureira, interior do estado, conseguiram chegar em Cruzeiro do Sul na tarde dessa quarta (3), quase 24 horas depois.
O veículo saiu de Rio Branco rumo ao Vale do Juruá na noite de terça (2). Antes de chegar em Sena Madureira, no KM 249, bateu em um buraco, o motorista perdeu o controle e tombou o ônibus.
Outro veículo da empresa levou as vítimas até o destino final. A Rede Amazônica Acre acompanhou a chegada do veículo e a emoção dos familiares durante o reencontro. Os passageiros reclamaram do atendimento no hospital de Sena Madureira e da falta de assistência da empresa.
O gerente de restaurante Hennan de Araújo Ferreira estava no ônibus e relembrou que o acidente ocorreu cerca de 5 minutos após acordar de um cochilo. “O motorista não viu o desvio, tinha uma cratera, não viu e tombou. Machuquei minha bacia, meus dedos, pernas”, lamentou.
A Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) confirmou que foram levados 15 passageiros com ferimentos leves para o Hospital João Câncio Fernandes, em Sena Madureira. Desse total, 14 receberam alta e apenas uma idosa ficou em observação na unidade de saúde. Já um idoso de 75 anos foi transferido para Rio Branco para um atendimento especializado.
A cabeleireira Brenda Queiroz estava com o Hennan e outro amigo. Os amigos foram para o interior celebrar o aniversário de Brenda.
“Estava cochilando quando bateu. Vi a morte e quando olhei já estava virando. Foi horrível”, relembrou.
Ao chegar em Cruzeiro do Sul, Brenda e Hennan buscaram o Hospital Regional do Juruá com dores. Foi identificada uma fratura no dedo da cabeleireira e ela foi submetida a uma cirurgia na tarde desta quinta (4).
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Momento horrível
Hennan relembra também que chovia na estrada no momento do acidente e as pessoas ficaram apavoradas. “Foi o maior horror possível: gente voando, criança desmaiada. Algumas pessoas com fratura no braço”, contou ele.
Ainda segundo o gerente de restaurante, não havia sinalização do local. “A estrada não tem sinal, não tem sinalização, só tem uma placa dizendo que tem um desvio, mas com tudo escuro no meio da madrugada, como vê?”, questionou.
Com o ônibus virado, Hennan recorda que as pessoas começaram a quebrar o vidro das janelas para tentar sair.
“Muito vidro, muito horror. As pessoas todas gritando e estava chuviscando, com a pista molhada. Não sei a qual velocidade o motorista estava, mas ele não estava devagar”, comentou ele.
Após sair do veículos, os passageiros ficaram às margens da rodovia à espera do socorro. Inicialmente, segundo o passageiro, apenas uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi para o local atender as vítimas.
“Chegaram três profissionais e deram prioridade pra quem estava mais machucado. Fomos cinco, então foi superlotação também dentro da ambulância. Chegamos no Hospital de Sena Madureira lá tinha um atendimento precário, sem suporte. Fizemos Raio-X e todo mundo saiu sem nem pegar uma receita de medicamento, nem nada”, criticou.
Equipes do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar também ajudaram no resgate dos passageiros. No hospital, ele relembra que percebeu que a estrutura da unidade não estava preparada para receber um caso desta gravidade.
“Minha bacia está inchada e muito roxo. Não tivemos nenhum atendimento mais específico. Era muita gente, o médico não tinha suporte para atender 45 pessoas de uma vez só, então, a gente tomou remédio na hora, viu que não estava com fratura exposta ou algo do tipo e liberou todo mundo. Eu precisava seguir viagem, então, acabei seguindo”, contou.
O g1 questionou a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) sobre a reclamação do passageiro quanto o atendimento no hospital de Sena Madureira, contudo, a pasta não deu respondeu.
Bagagem perdida
Hennan contou também que muitas pessoas perderam as malas, celulares e sacolas que levavam na viagem. De acordo com ele, quem não precisou ir ao hospital, aguardou no local do acidente até às 16h dessa quarta por outro ônibus para seguir viagem.
“As pessoas perderam muitos pertences. As malas quebraram todas e não tivemos respaldo nenhum da empresa. Depois do acidente não apareceu ninguém se identificando para poder dar suporte necessário para a gente. As pessoas gastaram com alimentação porque a programação era de chegar meio-dia [em Cruzeiro do Sul] e só chegaram às 18h”, comentou.
Ele lamentou o sentimento de abandono em relação à empresa de ônibus, e disse que precisou procurá-los várias vezes até ter uma resposta na manhã desta quinta. Ele pediu o ressarcimento dos bens perdidos e apoio para a compra de medicamentos para tratar as dores sentidas após o acidente.
“Não tinha ninguém da empresa. Disseram que ia aparecer um gerente lá, mas até hoje eu não sei quem é esse gerente, ele não apareceu. Eu estou saindo da [sede da] empresa agora e eles ficaram de ressarcir meu telefone, mas o pessoal daqui também não consegue resolver nada, é com a empresa em Rio Branco, mas estou em Cruzeiro e vou ficar 20 dias e preciso do telefone para trabalhar”, afirmou.
Em nota, a empresa informou que, ‘assim que foi informado do ocorrido, o gerente operacional da empresa, Francisco Mendes, deslocou-se imediatamente para o local acompanhado de uma equipe da diretoria operacional e mecânica. O grupo chegou por volta das 2h da madrugada. Outro ônibus de apoio, partindo de Sena Madureira, também foi encaminhado ao ponto do acidente para prestar auxílio’.
Nota da Trans Acreana na íntegra:
A Trans Acreana informa que toda a sua equipe operacional e a diretoria continuam acompanhando atentamente a situação dos passageiros envolvidos no tombamento ocorrido na noite do último dia 2 de dezembro, no km 26 da BR-364, sentido Sena Madureira/Rio Branco. Desde o primeiro momento, todas as medidas de suporte e acolhimento foram adotadas, e novos esclarecimentos estão sendo prestados para garantir total transparência às famílias, autoridades e imprensa.
O ônibus, que havia saído de Rio Branco às 19h com destino a Cruzeiro do Sul, transportava 44 passageiros e tombou por volta das 21h40, em meio à forte chuva. A precariedade do trecho agravada com o início do inverno amazônico é apontada como a causa mais provável do acidente.
Assim que foi informado do ocorrido, o gerente operacional da empresa, Francisco Mendes, deslocou-se imediatamente para o local acompanhado de uma equipe da diretoria operacional e mecânica. O grupo chegou por volta das 2h da madrugada. Outro ônibus de apoio, partindo de Sena Madureira, também foi encaminhado ao ponto do acidente para prestar auxílio.
Todos os passageiros foram levados ao Hospital João Câncio Fernandes, em Sena Madureira. Após avaliação médica, aqueles liberados foram encaminhados ao ponto de apoio conhecido como Restaurante do Tucano, localizado no posto de combustível na última entrada de Sena, sentido Cruzeiro do Sul.
Apenas uma passageira permaneceu em observação inicial no hospital. Na manhã seguinte, ela solicitou deslocamento para Rio Branco e a Trans Acreana providenciou o transporte por meio de táxi, arcando integralmente com o custo.
A empresa também acompanha de perto o caso da passageira Brenda Paula de Queiroz, que ocupava a poltrona 21 e foi encaminhada ao Hospital Regional do Juruá. Ela fraturou um dedo e passará por procedimento cirúrgico.
A seguradora contratada pela Trans Acreana disponibilizou um canal de atendimento exclusivo para prestar suporte a todos os passageiros que estavam a bordo no momento do acidente. O atendimento está sendo realizado pela representante Thaisa, que segue orientando e acompanhando cada caso individualmente. Dúvidas ou solicitações podem ser feitas diretamente pelo telefone (11) 96495-2416.