Um levantamento técnico do Plano Municipal de Mitigação e Adaptação às Mudanças do Clima aponta que as enchentes do Rio Acre fazem parte de um histórico recorrente em Rio Branco, com episódios registrados ao longo de mais de meio século. O documento foi elaborado em 2020 pela prefeitura da capital, em parceria com o Instituto de Pesquisas Ambiental da Amazônia (Ipam) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Os dados e análises também foram repassados pelo coordenador da Defesa Civil de Rio Branco, coronel Cláudio Falcão, ao ContilNet.
De acordo com o estudo, ao longo de 55 anos de monitoramento do nível do rio, já incluindo o transbordamento registrado neste mês, foram contabilizados 45 episódios de transbordamento. Desse total, 23 ocorrências foram classificadas como enchentes de intensidade média, grande ou extraordinária. O levantamento destaca que, mesmo tendo enfrentado uma alagação recente, há menos de 11 meses, o município segue inserido em um padrão histórico de cheias frequentes.
O ano de 2015 permanece como o mais severo já registrado, quando o Rio Acre atingiu a marca histórica de 18,40 metros. Outras grandes cheias também são citadas no documento, como as de 1997, com 17,88 metros; 2023, com 17,72 metros; e 2012, quando o nível chegou a 17,66 metros. Já em 2025, a maior cota observada ocorreu no dia 17 de março, quando o rio alcançou 15,88 metros, conforme informações da Defesa Civil municipal.
Apesar de o histórico apontar maior incidência de enchentes no primeiro trimestre do ano, a atual elevação do Rio Acre chama atenção por ocorrer no mês de dezembro. Ao meio-dia do último sábado (27), o rio ultrapassou a cota de transbordamento na capital ao atingir 14,17 metros. Já às 15h desta segunda-feira (29), o nível subiu para 15,38 metros.
Segundo a Defesa Civil, episódios de inundação em dezembro são considerados raros. Em todo o período de monitoramento do órgão, que soma 55 anos, uma situação semelhante foi registrada apenas uma vez, no dia 26 de dezembro de 1975.
A análise climática apresentada no plano indica que o período mais crítico começa no fim do ano. Entre 1971 e 2019, os dados mostram aumento gradual da intensidade das chuvas a partir de novembro, com reflexos diretos no nível do Rio Acre entre os meses de dezembro e maio.
O documento também detalha os parâmetros utilizados para o monitoramento do manancial em Rio Branco. A cota de alerta é fixada em 13,5 metros, indicando risco iminente de transbordamento. Já a cota de inundação é de 14 metros, quando o rio ultrapassa seu leito normal e passa a atingir residências localizadas em áreas consideradas de risco, especialmente nas regiões mais vulneráveis da capital.
Outro dado relevante do plano aponta que a maior parte das enchentes ocorre no primeiro trimestre do ano. Cerca de 73% dos eventos analisados aconteceram nos meses de fevereiro e março. Ainda assim, abril também aparece como um período sensível, com registros de enchentes de médio e grande porte, como nos anos de 2009 e 2011.
O histórico apresentado inclui episódios marcantes registrados em 1988, 1997, 2006, 2010, 2012, 2013, 2014, 2015 e 2023. Conforme a classificação do plano, enchentes de pequeno porte ocorreram em 14 anos, representando 28,6% dos casos. As enchentes médias foram registradas em 10 anos, enquanto eventos de grande porte aconteceram em nove ocasiões. Já as enchentes extraordinárias foram identificadas em cinco anos específicos: 1988, 1997, 2012, 2015 e 2023.
Diante do agravamento provocado pelas chuvas intensas e pela elevação do nível do rio, a Prefeitura de Rio Branco manteve nesta segunda-feira a situação de emergência. A medida considera os impactos já observados na estrutura urbana e o aumento do número de famílias afetadas na capital, além de dar continuidade ao decreto publicado durante a primeira enchente registrada em 2025.
Ao considerar os episódios ocorridos após o período analisado no estudo, o documento conclui que, nos últimos 50 anos, Rio Branco teve apenas nove anos sem qualquer registro de enchente.





