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quinta-feira, abril 25, 2024

Atendimento a pacientes que tentam suicídio deve ser acolhedor, dizem especialistas após vídeo em hospital do AC viralizar

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O caso recente em que duas técnicas de enfermagem aparecem em um vídeo fazendo comentários de deboche durante o atendimento no pronto-socorro de Rio Branco a uma paciente que tentou suicídio levantou o debate sobre o atendimento voltado para a saúde mental no estado acreano.

Como deve ser esse atendimento? Comentários preconceituosos prejudicam ainda mais o tratamento de pessoas com doenças mentais?

g1 ouviu um psiquiatra e uma psicóloga para entender de que forma esses pacientes devem ser recebidos e atendidos em uma unidade de saúde. Os dois destacaram que esse atendimento deve ser pautado no acolhimento e sem julgamentos.

O médico psiquiatra Marcos Araripe, que chegou a ser diretor do Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac) por alguns, explicou que comentários pejorativos podem, inclusive, ser ‘fator indutor’, em caso de pacientes com doença mental.

“A equipe deve ser imparcial e não fazer comentários pejorativos, porque esses comentários podem ser até um fator indutor. A pessoa que está passando por essa doença mental, por esse sofrimento no momento, pode ainda ser induzida por esses comentários pejorativos. O papel dos profissionais da saúde deve ser neutro, ouvir as queixas que a pessoa está relatando no momento e ofertar um atendimento adequado, ou seja, fazer um papel de acolhimento”, afirmou.

O especialista destacou ainda que a saúde mental já é um tabu e que situações como essa que ocorreu no pronto-socorro de Rio Branco acabam piorando ainda mais esse cenário.

“Prejudica porque a pessoa já está com o juízo crítico prejudicado, com esse agravamento da doença. Com esses comentários pejorativos, ela se sente ainda mais diminuída e que as demais pessoas não estão dando a devida importância para o problema dela.”

Núcleo de Prevenção ao Suicídio

A psicóloga e coordenadora do Núcleo de Prevenção ao Suicídio do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), Josiane Furtado, afirmou que quando o paciente chega na unidade deve ser feita a ficha dele sem exposição e, muito menos, sem qualquer juízo de valor.

“Não deve ser emitido juízo de valor e, sim, é importante fazer o acolhimento, desde a chegada desse paciente na unidade até durante a internação. Além disso, também é feito o acolhimento familiar, sem juízo de valor, porque a história não é nossa, é do outro”, falou Josiane.

A coordenadora afirmou ainda que desde março deste ano não está mais sendo feito o plantão de atendimentos do Núcleo de Prevenção ao Suicídio, por falta de um espaço para instalação da equipe.

Com isso, o trabalho do grupo tem sido somente de levantamento dos atendimentos desses pacientes na unidade de saúde. Nos três primeiros meses deste ano, o núcleo chegou a atender 158 pessoas e foram mais de 300 atendimento durante todo o ano.

A diretora do pronto-socorro de Rio Branco, Carolina Pinho, afirmou que não há uma previsão para retomada desse serviço na unidade de saúde. “Esse serviço não deveria acontecer no PS, porque não somos da prevenção. Não temos espaço.”

Técnicas afastadas

As duas técnicas de enfermagem que foram flagradas fazendo comentários de deboche durante o atendimento a uma paciente que tentou suicídio foram afastadas dos cargos no pronto-socorro da capital. O caso repercutiu nas redes sociais neste final de semana.

As imagens foram gravadas por uma outra paciente que estava internada na unidade e ficou indignada com a situação (assista ao vídeo acima). Os nomes das servidoras não foram divulgados, assim como o da paciente.

Dançando uma das profissionais diz: “Têm pessoas para fazer cirurgia, doenças graves, querendo se tratar, querendo se curar, viver, e a gente passando dor de cabeça com pessoa querendo morrer. O mundo é tão bom, a gente tem é que viver. Eu [quero viver] até quando Deus permitir, porque eu me amo.”

As duas mulheres comentam ainda que a paciente tinha que ir para o Hospital de Saúde Mental (Hosmac), mas que por conta de uma reforma na unidade, estão sendo levadas para o PS.

Em nota, a direção do pronto-socorro afirmou que as duas foram afastadas dos cargos e que a unidade não compactua com esse tipo de conduta.

“Os fatos estão sendo apurados para que todas as providências legais sejam tomadas garantindo o contraditório e ampla defesa. Por fim, reafirmamos a nossa finalidade em atender os casos de urgência e Emergência e enfatizamos o nosso compromisso com a saúde pública do Estado do Acre”, afirma a nota.

MP acompanha o caso

Também em nota, a Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) informou que vai abrir um processo administrativo (PAD) para apurar a conduta das servidoras que realizaram o atendimento da paciente.

Ao g1, o promotor de Saúde do Ministério Público do Acre, Gláucio Ney Shiroma Oshiro, disse que tomou conhecimento do caso e que vai instaurar um procedimento. “Vamos apurar como se deu essa situação e obter as informações necessárias, tanto por parte da instituição como da Sesacre e, se for necessário, elas [técnicas] também serão ouvidas”, afirmou.

Logo em seguida, em nota, o MP enfatizou que pediu abertura de inquérito na Polícia Civil pelos crimes previstos em lei por induzir ou instigar alguém a suicidar-se e expor a vida ou a saúde de outra pessoa a perigo direto e eminente.

Hospital de Saúde Mental do Acre

Além do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), que tem uma ala psiquiátrica, no Acre existe o Hospital de Saúde Mental (Hosmac). A unidade passou por reforma há cerca de três meses e, segundo a direção, está com todos os serviços ocorrendo normalmente, tanto ambulatoriais, quanto emergenciais.

A unidade foi reconhecida como Hosmac há pouco mais de 20 anos, porém, a estrutura, que fica no bairro Sobral, em Rio Branco, é de 1978.

Na década de 70, o hospital acomodava pacientes com doenças pulmonares, mas, em 1980, os 50 leitos na época ficaram apenas para pacientes com doenças psiquiátricas. A mudança no nome, antes chamado de distrital, foi uma maneira de tentar dar uma nova cara à unidade.

Atualmente, os serviços na unidade são ambulatoriais, internações e atendimentos de saúde, além dos sociais.

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