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quinta-feira, abril 25, 2024

Por que os gatos híbridos provocam polêmica e podem ser proibidos

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O fascínio dos seres humanos pelos gatos é mais do que conhecido e remonta aos primórdios da história — felinos começaram a ser domesticados há 10 000 anos e, no Egito Antigo, eram associados a deuses e reverenciados como tal. Sempre atrás de novidades, o pujante mercado de animais de estimação dedica-se nos últimos tempos a reverter séculos de docilização dos gatos, investindo com sucesso na divulgação de raças com traços da braveza original da espécie. Com nomes chamativos — bengal, savannah, chausie, cheetoh —, esses animais são fruto do cruzamento de gatos selvagens com gatas domésticas, resultando em filhotes de pelagem incomum pelas manchas e listras, olhos grandes e, sim, capacidade de machucar incautos desprevenidos. “Eles são maravilhosos, mas são uns psicopatas”, admite Hailey Bieber, mulher do cantor Bieber, a respeito de Tuna e Sushi, dois bichanos da raça savannah pelos quais o casal pagou 35 000 dólares.

O primeiro híbrido do gênero foi o bengal, filhote de gata domesticada com o gato-leopardo originário do Sudeste Asiático, que começou a ser reproduzido para venda em meados dos anos 1970. De pelos cintilantes, manchas redondas em duas cores (as rosetas) e listras nas pernas, o bengal, um gato que gosta de água, é atualmente o “doméstico selvagem” mais popular: a hashtag #bengalcat no TikTok passa de 670 milhões de visualizações. Dona do bengal Max, a atriz Kristen Stewart se confessa apaixonada por felinos e brinca que ainda vai se tornar “aquela senhora esquisita cercada de gatos, com toda a certeza”. No Brasil, Grazi Massafera tem dois, Sol e Brownie, que vira e mexe expõe nas redes sociais. Em segundo lugar nas preferências vem o savannah, o maior de todos, um híbrido de serval, felino selvagem de porte avantajado nativo da África, com típicas orelhas pontudas. No Instagram, o savannah Stry­ker acumula mais de 850 000 seguidores, a quem diverte com a atração incontrolável por frangos inteiros.

CUIDADO - Jaqueline, com Brenda e Nino, e Grazi com o bengal Sol: bichanos que exigem muita paciência e atenção -
CUIDADO - Jaqueline, com Brenda e Nino, e Grazi com o bengal Sol: bichanos que exigem muita paciência e atenção – @justinbieber/instagram; @massafera/Instagram

Nos gatis especializados, o preço dos híbridos varia entre 3 500 e 8 000 reais. Em um ano, o Tigrinus, em Janaúba, Minas Gerais, um dos pioneiros no país, vende cerca de oitenta filhotes. “Nossas fêmeas acasalam uma vez por ano, geralmente perto do Natal”, diz o dono, Francisco Rodrigues. Alerta: não são animais de fino trato. “Eles têm genes selvagens em seu DNA e precisam extravasar esse instinto de alguma maneira, o que demanda maior atenção por parte do dono”, explica Kellen Oliveira, presidente da Comissão de Bem-Estar Animal do Conselho Federal de Medicina Veterinária. Também é comum apresentarem problemas de saúde. “O processo de hibridização é muito delicado, podendo trazer uma série de complicações neurológicas, cardiológicas e ortopédicas”, diz Kellen.

As dificuldades não se limitam aos felinos e se reproduzem em quase todas as raças híbridas. Ficou famoso o desabafo do australiano Wally Conron, criador do cão labradoodle, a célebre mistura de labrador e poodle que ele antevia como um meigo cão-guia pouco dado a soltar pelos e, portanto, sem risco de causar alergias. Segundo ele, os excessos de cruzamentos nos canis resultaram em cães “ou doidos, ou com problemas hereditários”. “Abri uma caixa de Pandora e liberei um monstro do tipo Frankenstein”, disse. Outro caso conhecido é o do peixe-papagaio vermelho, dotado de uma bela combinação de cores, que segue sendo vendido (custa cerca de 200 reais), apesar da boca pequena demais, que dificulta a alimentação, e das nadadeiras imperfeitas. “O benefício dos humanos não pode falar mais alto que o sofrimento dos bichinhos”, afirma Elda Coelho, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética.

Em relação aos gatos híbridos, o Reino Unido estuda inclusive proibir a reprodução das raças devido ao alto número de bichanos abandonados por donos frustrados com a braveza. A empresária Patrícia Weiss Zimmermann, dona do bengal Tião, garante, no entanto, que é tudo uma questão de paciência. “Ele demorou a ter confiança nos humanos e é, de fato, um pouco arredio com desconhecidos. Mas, assim que se adaptou a nós, virou um gato muito carinhoso”, relata. A mesma recomendação se aplica a Brenda e Nino, os felinos da veterinária Jaqueline Muniz, de São Paulo, “Eles demandam bastante atenção e precisam brincar e gastar muita energia”, ensina ela. Sem isso, é melhor o dono ir se conformando com arranhões e reclamações das visitas.

  • Fonte: Veja Abril.
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