24 C
Juruá
sexta-feira, março 29, 2024

Jornalista Dom Phillips que está desaparecido no Vale do Javari esteve em Marechal Thaumaturgo semanas antes do desaparecimento

Por Redação Juruá em Tempo

- Publicidade -

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), divulgou que Dom Phillips, colaborador do jornal “The Guardian” esteve no Acre há cerca de um mês antes do seu desaparecimento, visitando a aldeia dos Ashaninkas no municipio de Marechal Thaumaturgo. Ele e o indigenista brasileiro Bruno Pereira estão desaparecidos pela Amazônia.

A Associação Ashaninka do Rio Amônia (Apiwtxa), mostra o jornalista falando do projeto de seu livro em um vídeo divulgado, de onde foi retirado o seguinte trecho: “As terras indígenas são os locais mais protegidos na Amazônia, todo mundo sabe disso e eu pedi para vir para cá [Acre] para entender como vocês lidam com isso aqui, como vocês se organizam, como é todo esse processo. Eu vim para acompanhar um pouco isso, aprender um pouco com vocês, como é essa cultura, como vocês veem a floresta; como vocês vivem por dentro, como vocês lidam com essas ameaças que vêm de invasores, garimpeiros e tudo mais. Agora estou fazendo um livro para uma editora inglesa, sobre essa questão da conservação na Amazônia, e andando muito na Amazônia, andando com pessoas e uma parte muito importante deste livro é a proteção dos povos indígenas, o protagonismo”, diz o jornalista em vídeo de um minuto.

A associação Apiwtxa ainda em nota relembrou a visita do jornalista na região e lamentou o ocorrido. “Externamos aqui nossa profunda preocupação com o seu desaparecimento, junto com o indigenista Bruno Araújo. Pedimos total celeridade nas buscas.”

Quem é Dom Phillips?

Natural do condado de Merseyside, região onde fica a cidade de Liverpool, no noroeste inglês. Mudou-se para o Brasil em 2007.
O britânico, era apaixonado pela Amazônia e os seus encantos, por isso, mudou-se para o país anos atrás.

Além do seu trabalho como jornalista também desbravou a região a fim de relatar a crise ambiental brasileira e os problemas de suas comunidades indígenas.

A Fundação Alicia Patterson, sediada na Bahia, onde Dom mora atualmente, é um apoiador de outro projeto sonhado pelo jornalista, a escrita de um livro sobre a floresta amazônica e sua autossustentabilidade quanto às chuvas.

Suspeito do crime

A Polícia Militar, no Amazonas, informou a jornalista Miriam Leitão nesta quarta – feira dia (08) que um homem foi preso, suspeito de envolvimento no desaparecimento de Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips.

O suspeito é conhecido como Amauri e tem um histórico de ameaças a indígenas.
De acordo com o delegado titular da 50ª Delegacia Interativa de Polícia (DIP), Alex Perez, a Polícia Civil do Amazonas instaurou um inquérito policial para investigar o caso.

As autoridades policiais ouviram cinco pessoas até esta terça – feira, dia 07, sendo quatro delas como testemunhas e uma sendo suspeita.

A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) ainda não divulgou os nomes das pessoas ouvidas. Fontes em Atalaia do Norte, cidade onde os dois desapareceram, afirmam que o suspeito ouvido pela polícia é Amauri.

Segundo a reportagem, havia uma pressão para que fosse solto, por não haver prova de envolvimento no crime, mas ele foi preso em flagrante pelas sucessivas ameaças que já fez a indígenas da região.

“Ele estava fazendo, nesse momento, uma ameaça à equipe dos indígenas que estava em busca. Isso foi considerado um flagrante”, disse Miriam.

Manaus – AM – A Amazônia Real, ouviu de fontes indigenas onde afirmam que o jornalista foi vítima de uma emboscada juntamento com Bruno Pereira.

Essa testemunha faz parte de um grupo de 13 vigilantes indígenas que circulavam com o jornalista e o indigenista pela região do Vale do Javari, em Atalaia do Norte, no Estado do Amazonas, na fronteira com o Peru.
Logo após a notícia do desaparecimento dos dois, no domingo (5), o grupo iniciou as buscas, mas sem sucesso.
Os indígenas, segundo a fonte, alertaram sobre os riscos de Bruno e Dom seguirem sozinhos pelo rio Itacoaí. Dom Phillips, colaborador do jornal inglês The Guardian, e o indigenista Bruno Pereira, que é servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai), foram visitar com a Equipe de Vigilância da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) a localidade Lago do Jaburu, que fica a 15 minutos da comunidade de São Rafael.

O lago também está nas proximidades da Base de Vigilância da Funai no rio Ituí, uma das quatro existentes na Terra Indígena (TI) Vale do Javari, que tem 8,5 milhões de hectares.
O objetivo era averiguar invasões dentro da TI. Pela fala da testemunha, no domingo dia (04), Bruno e o jornalista queriam conversar com o presidente da comunidade São Rafael, conhecidopor “churrasco”.

Em outro momento, eles já teriam sido intimidados por um grupo em uma embarcação de 60HP, motor considerado incomum para navegar em cursos d’água (furos e igarapés) mais estreitos e além disso, o grupo fez questão de mostrar que estavam armados.
Alertados e preocupados com a situação, os indígenas chegaram a pedir que Bruno, que já foi chefe da Coordenação Regional Vale do Javari e coordenador geral de Índios Isolados e de Recente Contato da Funai, não prosseguisse sem segurança. “Aí ele disse: ‘Não, eu vou baixar só, vou baixar cedo, vou pegar eles de surpresa’.” Segundo o indígena, Bruno e Dom foram recebidos apenas pela mulher de “Churrasco”, que ofereceu a eles “um gole de café e um pão”.

Depois, seguiram viagem em um barco da Funai com motor de 40 HP.  Nessa comunidade, haveria uma embarcação de 60 HP, fornecida por narcotraficantes para os ribeirinhos.

Com um motor dessa potência, seria muito fácil alcançar o barco do jornalista e do indigenista pelo rio. A suspeita, segundo essa fonte, é que “um traficante mandou o 60 (HP do motor) para lá exatamente esperando a vinda do Bruno, porque com certeza existe informante na cidade (de Atalaia do Norte) e tinha a informação de que o Bruno ia chegar na região”.“Tínhamos esperança de encontrar eles, da (localidade) Cachoeira para baixo, amarrados, que tivesse alguma pista, algum ‘pisado’ na beira do rio, para a gente ir rastejando. Mas não achamos nada”, afirma a fonte, que acredita que os dois não tenham sobrevivido. “Se foi aquele pessoal, aqueles pescadores daquela região, não é a primeira vez que fizeram isso.” disse o indigena. O indígena, ainda de forma anõnima, relatou para a Amazõnia Real, que a região no entorno da Terra Indígena Vale do Javari é bastante conflituosa,pois, existem ribeirinhos que trabalham para narcotraficantes, servindo de pescadores para alimentar o narcotráfico. Por isso falou sob a condição de anonimato por temer por sua vida, já que ele próprio também vem recebendo ameaças. “São 4 cabeças, se não me engano, e todos trabalham com narcotraficantes. Eles pescam para alimentar o narcotráfico. São muito perigosos. Eles foram apreendidos com muito tracajá, pirarucu, que tiraram da área indígena.” Na região, atuam também narcotraficantes peruanos e colombianos.

A equipe da vigilância

Paulo Marubo, coordenador da Univaja, a equipe de Vigilância Univaja (EVU), foi criada no intuito de denunciar invasores da TI Vale do Javari principalmente na região dos indígenas isolados. Porém, a ideia da equipe não foi bem sucedida de início pois, estava em seus planos uma parceria com a FUNAI, porém, esse órgão foi sucateado no governo de Jair Bolsonaro. “Só que a Funai se recusou a receber essa doação. O que nós pensamos: já que a Funai não quer receber, vamos montar a nossa Equipe de Vigilância não para fazer apreensão, mas fazer marcação dos invasores dentro da TI”, explica Paulo Marubo.

O grupo que acompanhava Dom e Bruno era a EVU. As áreas invadidas foram registradas e geolocalizadas através de imagens e de marcações pelo GPS. Eles tinham um acerto de que Bruno levaria esse material para denunciar ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal (PF), na cidade de Tabatinga, na região do Alto Solimões, próximo de Atalaia do Norte. A EVU, durante a permanência no Vale do Javari, se revezava nas madrugadas para garantir a proteção de todos, com no mínimo dois indígenas armados.
A fonte, ouviu de Dom, em uma entrevista feita por ele, perguntas sobre como os indígenas viviam, como se sentiam e como eles protegiam seus territórios. “Era uma coisa muito boa o que ele estava fazendo, mas infelizmente ele caiu numa emboscada. Foi uma fatalidade”, relatou a fonte.
Bruno achava que não seria atacado, portanto, no domingo de madrugada quando todos estavam de pé, ele falou que seguiria com Dom até a comunidade São Rafael, pois ele já conhecia. A equipe de vigilância quis sugerir que o grupo fosse divido porém foram demovidos pelo indigenista.
Como adiantou a Amazônia Real, dois homens identificados como “Churrasco”, presidente da Associação da Comunidade São Rafael, e mais um outro chamado de “Janeo”, foram detidos para prestar depoimentos pela Polícia Civil, que os liberou ainda na noite de segunda-feira (6). Até o momento não é confirmado que o motor de 60 HP tenha sido apreendido, conforme relatado pela fonte ouvida pela reportagem. Segundo a Polícia Federal, os dois homens, que são pescadores e ligados a crimes ambientais, foram ouvidos porque tiveram contato com Bruno Pereira e Dom Phillips antes do desaparecimento da dupla. Outras três pessoas identificadas como “Pelado”, “Nei” e “Caboclo” também estariam sendo procuradas para relatar o que sabem.

Pressão Internacional

“Na floresta, cada segundo conta, cada segundo pode ser vida ou morte. Sabemos que, depois que anoitece, se torna muito difícil se mover, quase impossível encontrar pessoas desaparecidas. Uma manhã perdida é um dia perdido, um dia perdido é uma noite perdida”. Esse trecho, foi postado pela esposa de Dom, a brasileira Alessandra Sampaio na segunda-feira dia (06), pois o governo de Jair Bolsonaro (PL), estava colocando dificuldades para iniciar as buscas pelos desaparecidos. Só tendo indício após a pressão da Embaixada da Inglaterra e a forte mobilização nas redes sociais.
A irmã de Dom, também se pronunciou com a gravação de um vídeo emocionado, relatando a paixão do irmão pelo Brasil e a preocupação com o futuro da Amazônia.
“Ele é um talentoso jornalista e estava pesquisando para um livro, quando ele desapareceu ontem (5). Estamos muito preocupados com ele e pedimos urgência às autoridades. Tempo é crucial”, afirmou.
Nesta terça feira (07), onde se comemora o dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a família do indigenista Bruno Pereira comunicou à imprensa uma nota angustiante, onde relatam mais de 48 horas, sem notícias. “Apelamos às autoridades locais, estaduais e nacionais que dêem prioridade e urgência na busca pelos desaparecidos”, afirmaram Beatriz de Almeida Matos, companheira dele, e os irmãos Max e Felipe. “É fundamental que buscas especializadas sejam realizadas, por via aérea, fluvial e por terra com todos os recursos humanos e materiais que a situação exige. A segurança dos indígenas e equipes de busca também precisa ser garantida.”
As entidades Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a Unijava divulgaram uma contundente nota à imprensa cobrando celeridade nas buscas de Dom e Bruno e que o governo brasileiro está sendo omisso de suas responsabilidades “diante da escalada de violência” contra os defensores da floresta. “Até o momento, no entanto, o número de agentes disponibilizados é ínfimo diante da urgência em se encontrar o paradeiro do indigenista e do jornalista desaparecidos”, diz a nota.
Ainda na nota, as entidades indígenas denunciam: “A região do desaparecimento condensa conflitos graves num clima de violência em que madeireiros, pescadores ilegais e o narcotráfico internacional exercem suas atividades no entorno e no interior da Terra Indígena Vale do Javari, diante da incapacidade e omissão dos órgãos responsáveis pela fiscalização e proteção dos territórios indígenas”.
O sertanista Sydney Possuelo disse à Amazônia Real que, para ele, “a circunstância toda, para mim, eles foram mortos”. “Eu estou me preparando para a pior notícia, eu não desejo isso, mas as informações, a situação e a vivência que eu tive, tudo me leva a deduzir que a notícia, lamentavelmente, é a pior possível. É resultado da política dos Bolsonaros, favorecendo essas coisas, mais violências, mais violências”, afirmou.

O governo federal se absteve de qualquer ação na procura dos desaparecidos até segunda-feira. Segundo a Polícia Federal o helicóptero só foi sobrevoar a partir de terça-feira. O órgão ainda informou que desde o dia 6, com apoio da Marinha, realizou “incursões na calha do rio Itacoaí” em embarcação, no trecho entre a frente de proteção Ituí-Itacoaí e o município de Atalaia do Norte.
Diante da repercussão internacional do caso, a Marinha do Brasil informou na segunda-feira que sete militares, “com auxílio de uma lancha, atuam nas atividades de busca”, e que o helicóptero do 1º Esquadrão de Emprego Geral do Noroeste entraria em operação nesta terça-feira, junto de “duas embarcações uma moto aquática”. Em nota, o Comando Militar da Amazônia, do Exército, afirmou que estava em condições de cumprir “missão humanitária de busca e salvamento”, mas que “as ações serão iniciadas mediante acionamento por parte do Escalão Superior”. O presidente Bolsonaro participará, nos próximos dias, da Cúpula das Américas, e o caso pode acabar se tornando pauta no encontro com o presidente norte-americano, o democrata Joe Biden.
A mobilização prossegue, incluindo a imprensa mundial e também entidades ambientalistas. O Greenpeace lembrou que esse desaparecimento do indigenista e do jornalista britânico “se deu em meio ao aprofundamento da política anti-indigenista promovida pelo atual governo” e que o afrouxamento de normas, a retaliação a servidores de agências ambientais, a paralisação dos processos de multas e o estrangulamento orçamentário de órgãos como a Funai e o ICMBio, contribuem para esse estado beligerante na região Norte. “Sem o menor constrangimento, o Brasil de Bolsonaro dá licença política e moral para que atividades predatórias se reproduzam à luz do dia, especialmente na Amazônia”, acrescentou.

- Publicidade -
Copiar