Tudo iniciou no ano de 2014 quando Fagner Sales teve sua candidatura indeferida, obrigando o ex-prefeito de Cruzeiro do Sul, Vagner Sales, ainda lúcido, a “repatriar” sua filha Jéssica. Naquela ocasião até os mais otimistas cientistas políticos duvidariam que Jéssica se tornasse essa grande liderança, admirada até por oposicionistas.
Bastou quatro anos de mandato para ver que a garota tinha traquejo. Subindo e descendo barrancos a menina Jéssica ganhou a confiança dos juruaenses, se reelegendo com facilidade em 2018 e se tornando uma das figuras políticas mais amada na região.
A deputada cresceu politicamente de maneira tão rápida que já em 2021 viu seu nome aparecendo nas pesquisas para o senado, disputa que, infelizmente foi tolhida por questões de saúde pessoal, obrigando Jéssica a disputar novamente uma vaga a câmara federal.
Há poucos meses a reeleição de Jéssica Sales era dada como certa, embora existissem muitos fatores que contribuíssem pela não-reeleição da deputada, como a já mencionada questão de saúde, e o surgimento de outras lideranças fortes na região do Juruá, como a candidatura do ex-prefeito de Porto Walter e ex-aliado dos Sales, Zezinho Barbary.
Jéssica não perdeu para “o agora”, a família Sales já vem perdendo a alguns anos, o principal crédito pela derrota de Jéssica Sales deve ser dado ao seu articulador político, seu pai Vagner Sales.
Na última eleição, Jéssica conseguiu ser a segunda deputada mais bem votada no estado, só na região do Juruá foram mais de 24 mil votos. O MDB, com bom espaço na base do atual governo, nomeava cargos importantes no Juruá, como o próprio irmão de Vagner que esteve à frente do Deracre em Cruzeiro do Sul, o filho Fagner como diretor na Seinfra, dentre outros.
A eterna ganância, arrogância e falta de humildade de Vagner Sales tentou fazer de Gladson Cameli um refém de sua política no Juruá e quando este se negou, fez o MDB sair do governo para tentar abocanhar uma fatia maior. O resultado dessa política fez com que o próprio MDB acabasse refém da política dos irmãos Rocha: Wherles e Mara, ambos com seu próprio projeto de poder familiar e individual.
Sem dúvidas o partido teria uma chapa ainda mais competitiva se tivesse permanecido no governo, dando condições para alcançar o coeficiente, elegendo Jéssica Sales novamente. Mas seu pai, Vagner Sales, insatisfeito, envenenou os caciques emedebistas e conseguiu convencê-los a desembarcar do governo.
O velho lobo Flaviano Melo nada pode fazer, eram muitos contra ele dentro do partido, aceitou a decisão da maioria mas lamentava a tragédia futura. Nos bastidores o ex-governador e presidente do MDB já previa o resultado das eleições e colocava no colo de Vagner Sales a responsabilidade.
Indiscutivelmente Vagner Sales é uma liderança que conhece bem o jogo político, mas suas ideias e práticas vão fazendo parte de um passado cada vez mais distante, sendo postas de lado. Seu modo de articular a política é o responsável direto pela derrota de Fagner Sales, para prefeitura, e agora da deputada Jéssica Sales.
A própria família Sales vem perdendo espaço e importantes aliados com essa forma de articulação. Por muito pouco Antônia Sales conseguiu se eleger. Mas perde também o MDB, e no caso do Jéssica, perde também o Juruá, uma deputada atuante e comprometida com a região.
Por fim, sabemos que Vagner jamais desejaria a derrota de sua filha, mas as falhas dele levaram Jéssica e o MDB a derrota. Veremos ser após das eleições a família Sales irá refletir e mudar a sua forma de fazer política, dialogando e abrindo espaços para que novos aliados e lideranças venham a surgir ou se insistirá no mesmo de sempre.
Poder, poder e poder!!!