Nos últimos anos, o Acre vem assistindo a uma transformação silenciosa, mas profunda, em seu campo. A mandioca, o milho tradicional e a banana, que por décadas sustentaram a base da agricultura familiar, estão perdendo espaço para lavouras comerciais mecanizadas, como soja e milho híbrido. O movimento é parte de uma nova fase da economia rural acreana, marcada pela chegada de tecnologia, grandes investimentos e integração com o mercado nacional.
Dados compilados pelo economista Orlando Sabino mostram que a soja e o milho já representam juntos mais de 30% do Valor Bruto da Produção (VBP) das lavouras do estado. A soja, que há uma década praticamente não existia, alcançou 45 mil toneladas em 2023 e deve atingir 11,3% do VBP agrícola em 2025. O milho, por sua vez, responde atualmente por 22% do valor total da produção agrícola.
“Estamos observando o avanço da produção rural capitalista sobre a pequena produção familiar”, avalia Sabino. “É uma mudança estrutural na base produtiva do Acre, com implicações sociais e econômicas importantes.”
Expansão acelerada e salto produtivo
Entre 2018 e 2022, a soja aumentou 21 mil toneladas em volume colhido, enquanto a mandioca perdeu 164 mil toneladas no mesmo período. O avanço é impulsionado por investimentos em tecnologia de plantio direto, sementes adaptadas e uso de maquinário moderno, especialmente nas regiões de Sena Madureira, Rio Branco e Acrelândia.
A integração lavoura-pecuária também tem contribuído para o crescimento das áreas cultivadas, com produtores utilizando pastagens degradadas para implantar lavouras de grãos. Segundo Sabino, a tendência é de continuidade e diversificação dessa produção nos próximos anos.
Impactos e desafios
Embora o crescimento da soja e do milho traga aumento de renda e geração de empregos no campo, o professor destaca que há riscos de concentração fundiária e exclusão dos pequenos agricultores. O desafio, diz ele, é construir um modelo produtivo sustentável e inclusivo, que combine ganhos econômicos com preservação ambiental e justiça social.
“O Acre precisa de políticas que conciliem produtividade e inclusão. As novas culturas são bem-vindas, mas é fundamental garantir espaço para a agricultura familiar e a produção tradicional”, defende Sabino.
Um novo mapa do campo acreano
O avanço das lavouras comerciais e o fortalecimento da pecuária desenham um novo mapa da produção agropecuária do estado. O Acre, que sempre teve a mandioca como símbolo de resistência econômica e cultural, passa agora a integrar o circuito nacional dos grãos. Para o pesquisador, o desafio é fazer com que essa transição ocorra de forma equilibrada e sustentável.
“O ideal é que essa nova fase da agricultura acreana não apague as raízes da produção familiar, mas sim, que as fortaleça com inovação e mercado”, conclui Sabino.

