Ele não é propriamente um sem-teto, um cidadão em situação de rua, como se diz na linguagem formal e politicamente correta para se tratar de pessoas que não têm onde morar. Embora ocupe apenas a varanda de uma residência praticamente abandonada, no bairro da Alegria, em Rio Branco (AC), ele é um dos donos do pedaço, um dos herdeiros do imóvel semiabandonado desde que os pais morreram e os irmãos, bem sucedidos, foram cuidar de suas vidas e o abandonaram ao próprio destino.
Ele ficou no seu canto, dormindo no que resta de um sofá velho. Além de conforto, de móveis e outros bens, ali falta de tudo, comida e água, principalmente. Se bem que, mesmo naquele ambiente insalubre, água é um elemento absolutamente dispensável já que o ocupante daquele espaço, um certo Edileudo Benjamim da Rocha, conhecido como Leko, de 54 anos, só toma banho quando pega chuva e diz estar – e os amigos confirmam – há pelo menos 25 anos sem tomar água – sim, 25 anos de beber água!
Ele come e sobrevive graças à ajuda dos amigos – e ainda bem que são muitos! No Bairro da Alegria, mesmo sendo ele um alcóolatra capaz de trocar água por cachaça, cerveja e outras bebidas – desde que contenham álcool, é uma pessoa querida, quase uma unanimidade. Que o digam, por exemplo, o procurador jurídico do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), Mário Sérgio de Oliveira e sua esposa, Nádia Canizo, que o conhecem desde que passaram a morar no bairro, há quase três décadas, e sempre o socorrem com comida. Ou o empresário Antônio José dos Santos, o “Antônio do Bezerra”, e sua esposa Roquelene, que são as pessoas que mais o assistem com a doação de comida, que ele ingere raramente também. “Quase todos os dias, ele almoça com a gente por aqui. Isso quando ele quer, porque muitas vezes ele não quer comer de jeito nenhum”, disse Antônio. Segundo o comerciante, mesmo após comer alguns bocados, ele continua a enjeitar a água.