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terça-feira, abril 16, 2024

Há 4 anos professora dá aulas a presos em Cruzeiro do Sul: ‘educação é saída fundamental’

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A ressocialização de pessoas privadas de liberdade depende de muitos fatores, por vezes escassos, dentro das unidades prisionais do Acre, porém, algo crucial para esse processo é a educação. Na véspera do Dia dos Professores, o g1 conversou com Rosa Maria Madeiros, de 44 anos, que há quatro dá aulas para os presos da unidade Manoel Neri da Silva, em Cruzeiro do Sul.

A professora passou em um processo seletivo e agora dedica três horas do seu dia são dedicadas a ensinar presos que cumprem penas por diversos crimes.

Para ela, a educação e o acolhimento dessas pessoas são determinantes para que, ao voltar para a sociedade, o preso consiga seguir um caminho diferente daquele que o colocou atrás das grades.

“Eu acho que a educação é uma saída fundamental e o governo teria que investir mais, porque é o melhor caminho para que eles [presos] voltem para a sociedade e não sejam reincidentes na unidade. Porque se saem educados, ressocializados, a sociedade inteira vai ganhar com isso”, diz.

Para Rosa, o maior desafio de sua profissão na escola da unidade é esse: despertar e tentar resgatar dos seus alunos a autoconfiança para que possam realmente mudar de vida.

“Se eles não aprenderem na unidade, se a gente não despertar o senso de que podem viver em sociedade como pessoas de bem, eles vão voltar a cometer crimes”, destaca.

Humana

Na sala de aula, ela ensina cerca de 12 presos – muitos nem terminaram o ensino fundamental, outros nem sequer sabem ler . Divididas por módulos, as aulas englobam história do Acre, espaço geográfico, escrita, caligrafia e leitura.

Os materiais são mais restritos por conta de ser uma penitenciária, mas o ano letivo dentro da cadeia segue uma programação e calendário.

A professora conta que no início tinha medo de lidar com os presos – o que ocorre sempre que é turma nova. A maioria deles vai para a sala de aula já no fim da sua pena e assim conseguem remição.

“Muitos contam a história de vida deles e a gente vê que muitos têm falta de amor tanto da sociedade, como da família, principalmente da família”, diz.

‘No início tinha pavor’

Os presos são retirados das celas pela escolta e levados até a sala de aula. Chegando lá, a escolta fica em uma sala separada acompanhando todos os movimentos.

Os presos que ocupam os pavilhões divididos pela facção não podem ter aulas. No começo, ter contato com os presos causou um pouco de medo em Rosa, mas ela conta que buscou conversar, se aproximar e acolher esses presos.

“É uma profissão de alto risco, porque sou da Educação e não da Segurança. No início tinha pavor, muito mesmo, é como se fosse uma grande prova na minha vida. Mas, com um tempo eu vou me aproximando, conseguindo o respeito deles, sempre botei o respeito em primeiro lugar, e depois o amor próprio. Fui tentando me aproximar, ficar perto deles, quebrando a barreira do toque. Hoje ajudo nas atividades pegando na mão, dando um toque no ombro e fazendo dinâmicas. Passei a ficar bem próxima deles”, conta.

Rosa diz ainda que tenta humanizar esse contato e ouvir a história de cada um, sempre também recorrer a ensinamentos bíblicos.

“Sempre tiro um tempo na aula para conversar um pouco. Eu digo a eles que são iguais a mim e que vão passar por essa fase ruim, conseguir a liberdade e viver como pessoas melhores lá fora e eles aceitaram essa metodologia de acreditar neles. Tento criar essa relação com eles”, finaliza.

Por três horas, presos saem das celas e estudam no interior do Acre  — Foto: Arquivo pessoal

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