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quinta-feira, março 28, 2024

Instituições avaliam desmatamento, queimadas e clima no contexto da pandemia

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O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, promoveu o evento online “O desafio do Brasil para conter o desmatamento e as queimadas na Amazônia durante a pandemia por covid-19 em 2020: implicações ambientais, sociais e sua governança na Amazônia e no acre”. O webinar ambiental foi transmitido ao vivo, nesta sexta-feira, 5, através do canal do Ministério Público do Acre (MPAC) no Youtube.

A diretora executiva da Sema, Vera Reis e o pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Dr. Luiz Aragão, dialogaram sobre a temática, com a moderação da promotora de Justiça, Patrícia Rêgo. O webinar obteve mais de 400 visualizações durante a exibição ao vivo e o link ainda pode ser acessado pelo endereço https://www.youtube.com/watch?v=yOd7EGRA1D8.

Luiz Aragão apresentou dados de uma nota técnica elaborada por ele e mais dois pesquisadores, Celso Silva Jr., do INPE e Liana Anderson do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). A nota, segundo os autores, tem o objetivo de subsidiar a tomada de decisão para a região Amazônica.

Já a diretora da Sema, Vera Reis, contextualizou a situação do Acre nesse cenário, enquanto um dos estados da Amazônia Legal. O público que acompanhou a discussão elogiou a clareza dos pesquisadores em apresentar dados técnicos.

A procuradora-geral de Justiça, Kátia Rejane de Araújo Rodrigues, acompanhou atenta o debate. “Muitas informações importantes e esclarecedoras que nos movem nesse momento sensível de pandemia que vivemos. Precisamos agir cada vez mais, principalmente diante dessa crise de queimadas que se apresenta na Amazônia Legal”, comentou durante o webinar.

“Eu não consegui retirar os olhos da tela. Mesmo sendo dados considerados complexos para quem não tem conhecimentos mais específicos da área de sensoriamento remoto, dr. Luiz e dra. Vera comunicaram muito bem”, disse Ylza Lima, técnica responsável pela Sala de Situação da Sema.

O evento online foi realizado por meio de uma parceria entre a Sema e o Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (CEAF) do MPAC.

Dados apresentados

Os dados foram obtidos através do Projeto AM-TROPICO – Sensoriamento Remoto Aplicado à Análise de Mudanças Ambientais nos Trópicos, apoiado pelo CNPq e pelo Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia – LBA; e do Projeto MAP-FIRE: plano de adaptação envolvendo atores da Região MAP (uma área trinacional que engloba a Região Madre de Dios/Peru, o estado do Acre/Brasil e o Departamento de Pando/Bolívia) para fazer frente aos riscos de queimadas e incêndios severos, apoiado pelo Instituto Interamericano de Pesquisas em Mudanças Globais (IAI).

A pesquisa envolve pesquisadores de instituições do Brasil: INPE, Cemaden, Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade Federal do Acre (UFAC); da Bolívia: a ONG Herencia; e do Peru: Centro de Innovación Científica Amazónica (CINCIA) e Conservation International (CI).

Em 2019, a taxa de desmatamento na Amazônia Legal foi de 9.762 quilômetros quadrados, representando um aumento de 30% em relação ao ano anterior, segundo dados do INPE. “Apesar de estar no quinto lugar no ranque em extensão de área desmatada, no conjunto dos estados da Amazônia Legal, o Acre apresentou uma elevação de 55% da taxa de desmatamento em relação ao desmate ocorrido em seu território no ano anterior. Destaca-se ainda que o ano de 2018 esse aumento foi 73% superior a 2017, quando se compara o desmatamento dentro do território do estado. Essa dinâmica do desmatamento no estado é reflexo da política e economia do país”, explicou a Vera Reis, considerando os dados do INPE.

As informações revelaram um cenário preocupante para a Amazônia Legal, com o aumento do desmatamento ilegal. Dada a situação de pandemia causada pelo coronavírus, a fumaça causada pelas queimadas poderá agravar a condição de saúde da população.

Segundo Vera Reis, para conter o avanço do desmatamento ilegal e as queimadas, o Governo do Estado intensificou a fiscalização e as ações de inteligência dentro das unidades de conservação. “O Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental da Sema tem subsidiado as equipes com imagens georreferenciadas, além de informações estratégicas de monitoramento”, disse.

Desmatamento-clima

Mesmo tratando de um assunto extremamente técnico, Luiz Aragão explicou de forma didática como se dá a previsão do período de seca. “É preocupante o cenário. Nós não temos como monitorar o potencial de queimadas sem avaliar o clima. A força motriz do clima é o oceano. Analisando os padrões atuais da temperatura do Oceano Atlântico, percebemos que 2020 está mais aquecido em relação a anos anteriores, até mesmo do que 2005, ano em que ocorreu uma intensa seca acompanhada de extensos incêndios florestais. Pelos padrões que se apresentam, o estado de Acre pode ser afetado pelo aquecimento dos oceanos, com uma possível seca severa neste ano de 2020”, alertou o pesquisador do INPE.

O pesquisador citou algumas das consequências das interações clima-desmatamento, como o aumento de queimadas, como o aumento das emissões de material particulado para a atmosfera, o aumento da incidência de doenças respiratórias, agravamento do quadro dos pacientes de Covid-19 e o aumento do número de pessoas dependendo do SUS (Covid-19 + doenças respiratórias associadas às queimadas).

Consequências

De acordo com Vera Reis, todas as consequências mencionadas pelo pelo pesquisador Luiz Aragão afetarão a Amazônia de modo geral e de modo especial o estado do Acre. “A questão vai além da desconformidade constitucional e legal, mas especialmente compromete o cumprimento das metas de redução das emissões de gases de efeito estufa, nos acordos jurisdicionais de REDD+, altera a capacidade de circulação de água nos ecossistemas com reflexos marcantes no sistema de abastecimento de água potável, e pode causar um impacto severo na produção pela conjugação de dois processos marcantes: o déficit hídrico e o stress térmico, além, obviamente do impacto na saúde da população”, avaliou.

Invasões de terras

Segundo a diretora da Sema, anteriormente na Amazônia, o corte e queima da floresta, realizados anualmente, era o sistema que predominava na agricultura familiar nos Projetos de Assentamento. Embora os projetos de Assentamento continuem em primeiro lugar no ranque das classes fundiárias que mais desmatam, seguidos das áreas particulares, a partir de 2019 a realidade se apresentou de outra forma.

“Os invasores entram no interior da floresta em áreas inacessíveis para o Comando e controle convencional, exigindo estratégias diferenciadas de ação, por tratar-se de grandes invasores e grileiros profissionais, atuando inclusive nas Áreas Naturais Protegidas”, lamentou Vera Reis.

Em abril desse ano, o governador Gladson Cameli instituiu o Comitê de Ações Integradas de Meio Ambiente para coordenar as ações de monitoramento e combate ao desmatamento ilegal, queimadas, incêndios florestais e crimes ambientais no Estado, para fazer frente ao atual quadro de uso e ocupação irregulares de terras em várias áreas do estado, por processos contínuos de invasões nas áreas públicas, especialmente nas Unidades de Conservação.

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