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sábado, maio 4, 2024

Fãs de Justin Bieber completam três meses em fila para show do cantor no Rio

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‘Não consigo dormir aqui”, afirma Jaqueline Castro, de 22 anos. As pessoas passam gritando, mandam todos irem trabalhar, tem gente que até xinga. “Mas ninguém tem nada a ver com nossa vida: paguei o ingresso com meu dinheiro”, diz a moradora de Guadalupe. E não foi barato: R$ 750 para ver Justin Bieber cantar.

Mais surpreendente que o valor do tíquete na pista premium, colada ao palco, é a disposição desse grupo para esperar o cantor canadense. Estão há pouco mais de 100 dias sob o Viaduto Trinta e Um de Março, próximo a um dos acessos da Marquês de Sapucaí.

Chegaram no dia 2 de novembro ao local da apresentação para garantir o melhor espaço, junto à grade que vai separar o astro pop de seus súditos. Haja paciência para esperar até 29 de março, dia do show.

— Fechei janeiro com 148 horas de acampamento — afirma Vitória Santos, de 17 anos, moradora de Rocha Miranda, que começou esta semana a trabalhar no setor administrativo de uma empresa no Centro. — Trabalho das 13h30 às 17h30 e, duas vezes por semana, durmo na porta do Sambódromo. São plantões de 12 horas.

MIL HORAS NA FILA

Entre lençóis, mochilas, baralho e dominó, com idades entre 15 e 25 anos, eles esperam. A maioria foi aos dois shows que Bieber fez no Rio, em 2011 e 2013, e muitos chegaram a acampar também para comprar ingressos, no lado de fora do Metropolitan. Parecem viver na pele aquele velho ditado: o melhor da festa é esperar por ela. Uma mulher os vê no chão, sonolentos, e oferece uma garrafa d’água:

— Moro aqui pertinho, posso trazer água gelada, querem? — diz Andrea Eliseu, de 34 anos, moradora do Estácio. — Já fui adolescente e sei como é isso. Também fiz minhas loucuras, mas nenhuma deste tipo.

Pela regra criada por eles mesmos, a posição na fila é proporcional à quantidade de horas que a pessoa ficou no acampamento. Tudo é anotado num caderninho. O estudante Mateus César, de 18 anos, sabe que será um dos primeiros. Ele já alcançou mais de mil horas na fila.

— Faço questão de estar aqui pelo menos cinco dias na semana — conta o rapaz, que mora com o namorado no Jardim América. — Ele não gostou no início, mas ameacei terminar o relacionamento, caso não aceitasse.

Quem não pode ir para a fila dá um jeito de marcar presença. Uma das meninas, que trabalha como babá a semana inteira, mandou a mãe em seu lugar.

— O que a gente não faz para ajudar um filho — disse a mãe, tímida.

Uma jovem de 19 anos prefere não se identificar, para preservar o emprego em um shopping da Zona Norte. Os patrões até sabem que ela passa três noites da semana no acampamento e, sem dormir, vai direto para o trabalho, mas reprovam a atitude.

— Sinto sono, mas nada que um balde de café não resolva — diz ela, que não pensa em desistir. — Não mesmo.

Como estão sob o viaduto, os jovens ficam abrigados tanto do sol quanto da chuva. Quando a sede bate, ou dá vontade de ir ao banheiro, pedem ajuda aos policiais do vizinho Batalhão de Choque, que nunca se negaram a atendê-los. Com a venda de ingressos para o carnaval, mudaram de calçada, atravessando a rua, mas ainda sob o viaduto.

— Uma vez jogaram uma garrafa de cerveja e acertaram minha perna. Todos nos julgam, ninguém se preocupa com a própria vida — diz Jaqueline, que perseguiu Bieber em sua última visita ao Rio e chegou a ficar pertinho do ídolo. — Quando fui fazer uma selfie, ele colocou a mão na frente. Nem gosto de olhar a foto porque fico triste. Cheguei tão perto, mas não consegui.

Não são poucos os que perguntam “como os pais permitem isso?” A mãe de Jaqueline responde:

— Preocupada eu fico, mas ela gosta mesmo desse garoto. Das outras vezes em que ele veio (2011 e 2013), também acampou com as amiguinhas. Ligo sempre. Peço a Deus que tome conta deles — afirma Haydeé de Castro, de 52 anos.

CASADA TAMBÉM AGUARDA

Quase todos os mais de 60 jovens, a maioria meninas, moram nas zonas Norte e Oeste. Tem até mulher casada à espera de Bieber: Rhomeika Medeiros, de 24 anos, moradora de Bangu.

— Eu tinha 16 anos quando comecei a gostar dele. Meu marido não gosta, mas entende — afirma Rhomeika, que tem a palavra “Purpose”, um dos sucessos do canadense, tatuada no braço. — Tenho meu trabalho e cuido bem da minha casa. Quando meu marido chega, o jantar está pronto. Só queria poder tocar no Justin para ver se ele é real.

Rhomeika, Jaqueline e Vitória falam do cantor como se fossem íntimas. Qual o dia do seu aniversário? “Primeiro de março”, respondem. Que instrumentos ele toca? Violão, guitarra, piano, trompete e bateria. Quantos irmãos? Dois. E os pais, são casados? Separados.

Quando querem tomar banho, há três opções: a pia do banheiro de um posto de combustíveis; a casa de um amigo, que mora perto; e um bar, onde pagam R$ 5 pelo chuveiro. O maior perigo que já viveram foi quando um carro desgovernado subiu a calçada onde eles costumavam ficar.

— Foi por muito pouco. Estávamos lá na noite anterior — lembra um dos jovens, aliviado.

Questionada sobre o que aprendeu nesse pouco mais de 100 dias, Jaqueline não pensa duas vezes:

— Aprendi que os moradores de rua são as melhores pessoas. São os únicos que não nos julgam.

 

Com informações de Oglobo.

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